Os anos 60 e sua importância no universo da cultura pop mundial

Você que gosta de música já parou para pensar no porquê de tanta gente, quando perguntada sobre os melhores discos, artistas e afins, sempre citam algo relativo aos anos 60?
É invariável... Sempre vai haver uma citação à Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan, Pink Floyd, The Who, Woodstock e por aí vai.
Mas por que?
Qual a razão de tanta gente (e gente graúda no universo da cultura pop) atribuir tanta importância à produção cultural daquele período em especial.

A Pitchfork defende que a demografia é responsável  direta pelo fenômeno já que uma geração inteira, a dos baby boomers (nascidos após a segunda guerra mundial) chegou à idade de consumir tecnologias e cultura e – o foco aqui – ouvir música.
A popularização dos meios de disseminação desta cultura também sofria grandes transformações com a popularização da televisão, os avanços nas tecnologias que permitiam agora ouvir música nos carros e a realização de grandes shows.
E com isso em mente, a publicação fez um verdadeiro tour de force para listar (tarefa hercúlea) os 200 discos mais importantes daquela década.
O trabalho de ouvir, que pode parecer prazeroso a primeira vista, se desdobra em várias frentes para que se possa entender o contexto em que cada obra foi lançada. Tanto no âmbito geral quanto no pessoal de cada artista no momento da composição e lançamento.

Obviamente, discos dos Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan, The Byrds, Beach Boys, Hendrix e Janis Joplin estão na lista e, às vezes, com muito mais de um álbum.
Mas o mais legal desta matéria é explorar as indicações menos conhecidas, mais obscuras ou fora do nosso próprio radar de preferências.
Assim, obras de jazz, musak, country music, vaudeville e até samba (há diversos discos brasileiros listados) pipocam na matéria.
Pinçamos algumas coisas para mostrar de forma rápida por aqui, mas quem quiser ver a lista completa pode acessar a matéria por este link: The 200 Best Albums of the 1960s
Divirta-se.

Max Roach
We Insist! Max Roach’s Freedom Now Suite
1960.
Em 1959, o baterista Max Roach e o escritor Oscar Brown Jr. começaram a trabalhar em uma suíte com temas de direitos civis para grupos de jazz e coro. Eles planejavam estrear em 1963, no 100º aniversário da Proclamação de Emancipação. Mas quando começaram as manifestações contra a segregação, Roach e seu colaborador aumentaram o cronograma. A urgência das duas sessões de gravação de 1960 que resultaram em We Insist! Freedom Now Suite de Max Roach ainda se mostra dramaticamente emocionante, assim como os temas políticos que estimularam o baterista do bebop permanecem salientes.
Em “Triptych”, por exemplo, Lincoln cria um senso de drama e resolução, movendo-se através de texturas solenes, rebelião e repouso. Seja na companhia de um percussionista nigeriano ("All Africa") ou trabalhando com estilistas de bop como o trompetista Booker Little, a atuação de Roach é tão nítida quanto seus arranjos. Ao desenvolver com sucesso as mensagens políticas anteriores do jazz (incluindo "Strange Fruit" de Billie Holiday), We Insist! desempenhou um papel catalisador na próxima década de protesto da música. –Seth Colter Walls


Jorge Ben
Samba Esquema Novo
1963
Embora seja mais conhecido por lançar, "Mas, Que Nada", Samba Esquema Novo é uma obra-prima da bossa nova, complementada por 11 outras músicas igualmente imortais, ainda que menos notadas. Criado no Rio por uma mãe etíope, Ben, de 18 anos, infundiu sangue fresco no som estabelecido da cidade, incorporando uma influência de samba mais forte em seu estilo de guitarra rítmica do que seus antecessores.
Samba Esquema Novo é um dos álbuns de bossa nova mais distintos já gravados e um vislumbre da obra única de Ben, que abrange bossa, samba, tropicália e afro-funk. Seu impacto como compositor e inovador sonoro é particularmente prenunciado nas passagens assustadoras e discretas de Quero Esquecer Você e A Tamba. Embora ele tenha sido frequentemente ignorado em comparação com contemporâneos como Gilberto Gil, Caetano Veloso e Sergio Mendes, principalmente fora do Brasil, sua contribuição não é menos importante. – Edwin “STATS” Houghton


The United States of America
The United States of America
1968
O nome deles era uma provocação - “uma maneira de expressar desdém pela política governamental. Foi como pendurar a bandeira de cabeça para baixo ", como Dorothy Moskowitz do grupo disse à Terrascope. Mas se você era jovem em 1968, havia muita coisa acontecendo - LSD, Vietnã, The White Album, Stockhausen - e os Estados Unidos da América de alguma forma pareciam tudo de uma só vez: um discurso de contracultura sobre o estado da união. Seu primeiro álbum foi o trabalho de um grupo de estudantes da UCLA trabalhando sob a direção de Joseph Byrd, ex-aluno de John Cage.
Byrd, um comunista de carterinha, imaginava uma banda de rock de vanguarda com políticas radicais no centro, e a partir desse ponto surgiu um conjunto de músicas que tocavam em todas as direções. O fuzz-rock e a música concretista fluem para o jazz e ragtime tradicionais, com a voz bonita, mas sem afetividade de Moskowitz. Por qualquer critério convencional, é uma confusão, mas pense nisso como o equivalente musical de uma colagem de Rauschenberg e tudo faz sentido. –Louis Pattison


Tammy Wynette
D-I-V-O-R-C-E
1968
A principal atração deste disco é a faixa-título, sobre a tentativa de um casal de esconder seu divórcio (tema bem incomum na época) de seu filho de quatro anos ainda não alfabetizado, soletrando a palavra em vez de dizê-la.
Wynette tinha o dom de farejar a tristeza em qualquer material que lhe fosse entregue, então até as capas obrigatórias típicas dos álbuns country daquela época dispararam - especialmente as angústias de "Yesterday" dos Beatles e do violinista John Hartford "Gentle on My Mind”. O produtor Billy Sherrill ajudou a abrir caminho para o som “countrypolitano” - um emaranhado de cordas, coros e sotaques às vezes exagerado -, mas com Wynette, ele sempre dava espaço à sua voz, permitindo que toda emoção e talento de sua garganta para falassem por si. –Evan Rytlewski


The Shaggs
Philosophy of the World
1969
Quando Austin Wiggin era jovem, sua mãe previu que ele se casaria, teria filhas e que elas que formariam uma banda popular.
Depois que as duas primeiras partes se tornaram realidade, Austin assumiu o destino com suas próprias mãos: ele retirou suas filhas adolescentes Dot, Betty e Helen da escola e as confinou em ensaios constantes, onde eles tentavam criar música pop em instrumentos que mal conseguiam tocar.
O único disco de estúdio do trio de New Hampshire, Philosophy of the World traz vozes discordantes e uma imitação desajeitada de melodias pop. Podem ser desanimador no começo, mas sob a instrumentação embaraçosa há três garotas cantando sinceramente sobre seu gato de estimação perdido ("My Pal Foot Foot").
Embora as Shaggs nunca tenham atingido o nível de fama que seu pai desejava, para sua surpresa, a Philosophy of the World acabou se tornando  dos discos favoritos de Frank Zappa que as chamou de "melhores que os Beatles". Muitos anos depois, Kurt Cobain disse o mesmo. Quem poderia ter previsto isso? –Quinn Moreland
Nota do Musique-se: Este disco é horrível, horroroso, horrendo....


Leonard Cohen
Songs of Leonard Cohen
1967
Leonard Cohen tinha 33 anos quando despontou na cena folk como um estranho em uma terra estranha.
Com a aparência de alguém muito mais velho surgia na capa de seu álbum de estréia com olhar enigmático em uma foto em preto e branco que parecia pertencer à década de 1940.
Sua música estava igualmente fora de tempo, com letras poéticas e impactantes.
Tocava violão de forma gentil e com grande precisão. E cantava da mesma forma...
Diferente de Lou Reed ou Bob Dylan, deus seu recado sem um grito sequer e seu disco Songs of Leonard Cohen parecia ter sido criado em um mundo onde o rock and roll não existia.
Cohen começou sua carreira como poeta publicado e seus poemas versavam sobre amor, fornos de Auschwitz e romances sobre sexo e drogas. Carregou tudo isso para o estúdio o que fez Songs of Leonard Cohen parecer a continuação de uma história maior.
Existem personagens nessas músicas, pessoas que Cohen claramente conheceu intimamente e esperava que através das canções, você viesse a conhecer também.
Agora que Cohen se foi, sua discografia se assemelha a uma cidade de pedra sagrada e esse registro é a igreja no centro da cidade: você pode passear por ela, ouvir os ecos, colocar as mãos nas pedras lisas.  – Jayson Greene

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