Discos para ajudar na quarentena (1) Echo & The Bunnymen - Ocean Rain (1984)

Este periodo de reclusão social pode vir a ser um tanto entediante, mas é necessario.
O Musique-se vai, em sua modesta possíbilidade, tentar amenizar o período indicando bons discos, livros, filmes, séries, documentários, quadrinhos... Etc.
Esperamos que estes tempos passem logo, mas enquanto não passam, é hora de se divertir em casa mesmo.
Tomara que ajude alguém como está ajudando a gente aqui.


Em minha modesta opinião, um disco tem que ganhar você na primeira audição.
Sim, você precisa ouvir um álbum mais vezes para entender as nuances, as texturas que fazem dele uma obra diferenciada, mas, se na primeira audição você não ficar com vontade de colocar para tocar novamente ao menos uma das faixas, é o fim da linha.
O disco já te perdeu.
Um que me ganhou na primeira audição e ainda detonou um caso de amor à primeira vista (ou audição, contextualizando melhor) foi Ocean Rain, álbum de 1984 do Echo & the Bunnymen.

Só tomei conhecimento da banda em 1988.
Até então, meu gosto sonoro recém adquirido era formado apenas por Queen, Beatles e o nascente BRock capitaneado - para mim - pela Legião Urbana.
Alguns indícios de que me apaixonaria por música pesada também rondavam meu toca discos com Somewhere in Time do Iron Maiden e isso era tudo.
Mas aquele disco de capa melancólica em tons azulados mostrando a banda em um barquinho solitário dentro de uma caverna me chamou a atenção. Eu tinha que ouvir.

O disco abre com “Silver” e quando o violão da introdução ganha o acompanhamento da orquestração, é como se uma porta se abrisse e uma voz dissesse: “aqui está a beleza”.
A faixa arrebata logo de cara com seu instrumental alegre e letra otimista.
Impossível não cantar os “la la la” junto com Ian McCulloch.
Porém, quando o pequeno silêncio entre uma faixa e outra é vencida, “Nocturnal Me” nos transporta para outra região da mente do compositor, mais sombria, gelada e até assustadora evocando “mundos de arame”, “céus inflamados” e não dando opções além de fazer ou morrer.
Não por acaso, Tobias Forge coverizou a faixa no EP Popestar, de 2016 do Ghost.
Ouvir o Papa Emerithus III cantando que: “... a beleza está no horizonte azul.” chega a arrepiar.

“Crystal Days” retoma a boa vibe instrumental com letra esperançosa. Algo que Jim Morrison (inspiração confessa) escreveria em um dia alegre.
“The Yo-yo Man” e “Thorn of Crowns” remetem aos três primeiros discos da banda com arranjos um pouco mais experimentais. A seção de cordas da primeira ajuda a aumentar o desconforto causado pela letra estranha junto com a melodia. Já a segunda é uma espécie de caos organizado onde McCulloch parece falar sobre cristianismo e que tem o refrão mais estranho de todos os tempos: C-c-c-cucumber / C-c-c-cabbage / c-c-c-cauliflower / Men on Mars / April showers / Oh oh, oh oh (pepino / repolho / couve flor / homens de marte / chuvas de abril / oh oh oh oh).

“The Killing Moon” é a sem dúvida a maior canção não só do disco, como também da banda.
Motivo de orgulho de Ian que chegou a declarar que sentia que ao cantar a canção, sentia que nenhum grupo havia escrito uma música que sequer se aproximasse dela.
Ego a parte, “Killing Moon” é um marco do pós punk.

O disco segue com as belíssimas “Seven Seas”, “My Kingdon” e termina com a sombria faixa título.
A produção e a mixagem foram divididas entre a banda e Gil Norton e gravado nos estúdios Des Dames, em Paris.
Os arranjos orquestrais, o piano e o celo são de Adam Peters e todas as músicas foram creditadas à McColloch, Sargeant, Pattinson e de Freitas.
A banda ainda lançaria ótimos discos após “Ocean Rain”, mas todos ficariam condicionados a serem comparados a ele.
Recomendo demais.

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