Outras vozes

No News of the world edição 27 aqui no Musique-se, a gente falou sobre algumas possibilidades que não foram adiante com bandas de grande sucesso com vocalistas diferentes...
Estamos sim falando do Queen com Robbie Williams e do Black Sabbath com (kkkk) Michael Bolton.

O Queen procurava um outro cantor após o hiato gigante causado pelo falecimento de Freddie Mercury que todos disseram ser insubstituível e sim, é... Mas tanto Brian quanto Roger ainda queriam levar a música da banda ao público e sentiam que tinham muito a dar (mas principalmente, a receber) do legado do Queen ao mundo.
Ter pensado em Robbie mostrava que não queriam um outro Freddie, mas um cantor de personalidade e talento tanto para cantar quanto para compor.
E a personalidade de Robbie foi tamanha que ele recusou por motivos bem pessoais e totalmente aceitáveis e claro, passiveis de todo o respeito.
A Brian e Roger, restaram seguir em frente, primeiro com Paul Rodgers com quem gravaram até um disco de inéditas e depois com Adam Lambert, egresso de um dos modernos shows de calouros da TV mundial.
Adam não compromete, pelo contrário, agrega e mantém muito alto o nível vocal e de performance de palco.
Se falta algo? Falta..., Mas não é tão importante assim.
O Queen sobrevive e ainda encanta com ele.

Já o caso do Black Sabbath, bom... Michael Bolton, poxa...
Imagine o Sepultura ficando sem Max Cavaleira e não encontrando logo de cara o ótimo Derrick Green e tendo que procura gente para cumprir contratos e, claro, dar sequencia à carreira com audições e, de repente, aparece o Fábio Jr. para fazer teste e, pior, no fim Andreas pensa seriamente em contratá-lo.
É mais ou menos isso que representa Toni Iommi ter pensado em ficar com Bolton para a sequencia da carreira do Black Sabbath após Dio ter deixado a banda.
Ainda que menos traumática, a troca de vocalistas no Black Sabbath é uma constante.
Ozzy já foi e voltou... Dio foi e voltou, Toni Martin ia e voltava, mas não dizia ao que vinha e Até Ian Gillan e Glen Hughes cerraram fileiras na banda.
O resultado? Discos desiguais (óbvio) e fases distintas (ainda que a voz de Martin seja semelhante à de Dio) e muita confusão na hora de traçar uma linha e escrever sobre os caras...

Mas e outros grupos? Como sobreviveram à troca de frontman? Se é que sobreviveram, claro?
Por que eles saem... Os vocalistas geralmente são os primeiros a pular fora dos barcos das bandas para carreira solo, outros projetos... E querendo ou não, são a cara publica das bandas. Podem até não ser a alma delas (no caso do Black Sabbath, Iommi dá as cartas, tanto que gravou Seventh Star (1984) com um monte de convidados e tacou o icônico nome na capa).

Já o Van Halen não só sobreviveu após a saída de David Lee Roth, como viveu sua segunda fase de ouro.
Tanto que existem fãs e publicações que tratam a fase Lee Roth como Van Halen e apelidam a fase Sammy Hagar de Van Hagar.
De fato, do tal “big rock” (como a imprensa rotulou os discos da primeira fase da banda) sobrou bem pouco na encarnação com Hagar.
O som, que continuou alto e poderoso, se tornou algo bem próximo do AOR, com baladas pungentes e rocks rápidos, pesados e cheios de teclados.
Exemplo? “Dreams” é a típica música de comercial de cigarro...
Quando Hagar saiu, a banda tentou Gary Cherone, que cantava no Extreme, mas... Um pouco mais tarde melhor foi fazer as pazes com David Lee e tocar o barco.

O Iron Maiden também teve diversos vocalistas e isso comprometeu bem pouco o trabalho.
Da saída de Paul Di´Anno após dois discos ótimos, passando pela fase de ouro dos anos Dickinson, os subestimados discos do bom Blaze Bailey (que não deu liga, é verdade) até a volta triunfal de Bruce, o Iron se manteve firme, ativo e (quase sempre) forte.

O Deep Purple também fica nesta lista como banda que deu certo com diversos cantores diferentes.
Rod Evans talvez seja o menos lembrado apesar de ter gravado três discos.
Gillan é o mais festejado e tem em Coverdale seu grande rival... David canta muito, mas em toda sua passagem pelo Purple teve que dividir os vocais com o ótimo Glen Hughes.
Joe Lynn Turner é o ponto baixo, mas foi um disco só.

Outro gigante que trocou de frontman foi o Genesis.
Peter Gabriel era muito mais que o compositor e cantor da banda. Suas performances de palco ajudaram a fazer do Genesis uma lenda, mas quando este foi para a carreira solo, a solução foi natural e caseira.
O baterista (bom para caceta!) Phil Collins que já dobrava ou dividia os vocais com Gabriel foi efetivado no posto e vida que segue...
Quer mais? Ainda ajudou a imprimir uma pegada mais pop à banda que lhe deu uma nova cara, uma nova legião de fãs e a popularização que poucas bandas do nicho dito progressivo experimentaram.
A fase com Phil Collins é diferente dos tempos Peter Gabriel, mas não deve nada em qualidade.

O mesmo com AC/DC após a morte de Bon Scott e outros exemplos não faltam como o Faith No More e o Alice in Chains...

No Brasil pode-se citar um caso vencedor com o Barão Vermelho.
Cazuza, além de vocalista principal (Roberto Frejat sempre dividiu com ele a função) era compositor, o frontman e filho do dono da gravadora (ainda que isso não tenha peso algum para a banda).
E mesmo com dificuldades, o Barão pós Cazuza achou seu lugar e se firmou como uma das maiores bandas do rock brasileiro em todos os tempos.
Hoje, com Rodrigo Suricato na posição que era de Roberto Frejat, o grupo se reinventa e lançou há pouco um disco muito honesto e cheio de canções com cara de hits, se ainda houvessem hits de rock no Brasil.

O mesmo pode-se dizer do Sepultura em que, na nossa modesta opinião, Derrick Green não deve nada em termos de performance vocal à Max Cavaleira.
E os discos, bem... São diferentes como tem que ser, mas igualmente bons.

Já outras bandas não tiveram a mesma sorte e quando seus cantores saíram de cena, por morte ou carreira solo, a coisa ficou pequena.
Uma gigante que não suportou a troca de frontman foi o The Doors.
Após a morte de Jim Morrison, a banda de Ray Manzarek, Robby Krieger e John Densmore ainda tentou seguir adiante e há algumas fontes que citam um convite a Iggy Pop para que substituísse Morrison.
 Se é verdade ou não, o fato é que com os Krieger e Manzarek segurando os vocais ainda lançariam dois discos, mas duvido que alguém que não é muito fã dos Doors saiba citar duas músicas de Other Voices (1971) e Full Circle (1972).

O Stone Temple Pilots, que também está para por no mercado um novo disco ficou a deriva após a morte de Scott Weiland.
A banda chegou a convidar e se não me engano, teve alguns shows com Chester Bennington, do Linkin Park, mas não prosperou.

O Camisa de Vênus tentou seguir sem Marcelo Nova e até chegou a gravar um disco ao vivo com Eduardo Scott nos vocais, mas não deu liga.
Camisa é com Marcelo e por mais roqueiro que Scott fosse, ainda tinha voz de axezeiro.

Os Mutantes, pós Rita Lee e Arnaldo Baptista também foram pálida sobra do monstro sonoro que eram.
Sob a direção competente de Sérgio Dias, a banda gravou mais alguns discos até se desfazer e voltar nos anos 2000.
O respeito e a admiração mundo afora continuam, mas já não é a mesma coisa.

Os Raimundos pós Rodolfo também lutam, as vezes ingloriamente, para manter a cabeça fora d´água.
Apesar da devoção dos fãs e dos esforços da banda, o momento não é mais para bandas de rock no mainstream.
Infelizmente, já que os Raimundos continuam pegando pesado e mandando super bem com os vocais do Digão.

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