73 anos de Sérgio Sampaio, apenas um compositor popular

A história da MPB por vezes registra alguns rótulos e pechas que não só degradam como atrapalham a vida de determinados artistas.
Um destes ‘grupos’ são os chamados ‘Malditos’.
Neste grupo militam cantores e compositores de talento inegável, porém com pouca visibilidade do grande publico: Walter Franco, Jards Macalé, Luiz Melodia, Itamar Assumpção e principalmente: Sérgio Sampaio.

Cantor, compositor e alcoólatra, nasceu em Cachoeiro do Itapemirim, Espirito Santo em 13/4 de 1947 portanto, conterrâneo de Roberto Carlos, a quem dedicou a canção “Meu pobre blues” onde o personagem principal – talvez ele mesmo – tenta fazer com que o ‘rei’ grave uma canção sua:
Blues tão rico
Só que já não esconde
Que o meu pobre coração
Está ficando um tanto ou quanto aflito
Pois deve estar pintando o tempo
Em que você começa a gravar
No seu próximo disco
Eu queria tanto ouví-lo cantar
Eu não preciso de sucesso
Eu só queria ouvi-lo cantar
Meu pobre blues... E nada mais... 

Durante sua vida, não se tem noticia de que em algum momento tenha sido executivo ou empresário, mas compôs um poema lindíssimo com base em reflexões de um executivo.
“Roda Morta” tem sabor amargo e a beleza trágica dos grandes desastres da humanidade:
Eu sei que quando acordo eu visto a cara falsa e infame
como a tara do mais vil dentre os mortais
E morro quando adentro o gabinete
Onde o sócio o e o alcagüete não me deixam nunca em paz 

Participou com Raul Seixas (não gritem ‘toca Raul’), e outros dois ‘malditos’, Edy Star e Mirian Batucada do álbum coletivo ‘Sessão das Dez’, que foi um fracasso de vendas, porém importantíssimo tanto dentro da carreira de Raul quanto da música brasileira.


Em sua obra mais conhecida, Sérgio conta da discriminação que sofreu por não participar de movimentos artisticos contra o período de exceção por qual passava o país.
Não se pode culpar ninguém por não querer ingressar na causa anti-militar, muito menos Sampaio, afinal gente de muito mais expressão e peso na vida cultural do país foi preso e exilado ou simplesmente sumiu.
O que então poderia acontecer então com um aspirante a ídolo que até então não tinha se dado bem?
“Eu quero é botar meu bloco na rua” tem versos que descrevem muito bem.
Há quem diga que eu dormi de touca
Que eu perdi a boca, que eu fugi da briga
Que eu caí do galho e que não vi saída
Que eu morri de medo quando o pau quebrou. 

Há quem diga que eu não sei de nada
Que eu não sou de nada e não peço desculpas
Que eu não tenho culpa, mas que eu dei bobeira
E que Durango Kid quase me pegou.

Mas sua obra mais bela fala apenas de si mesmo e mesmo tendo sido gravada ainda no inicio da carreira acabou lhe servindo como epitáfio.
“Não adianta” – aqui gravada por Zeca Baleiro - soa como despedida:
O que importa, 
É que já não me importa, o que importa, 
É que ninguém bateu em minha porta, 
É que ninguém morreu, 
ninguém morreu por mim. 
Não quero nada, 
Não deixo nada, que não tenho nada, 
Só tenho o que me falta e o que me basta, 
No mais é ficar só, 
Eu quero ficar só.

Reza a lenda que Sérgio compôs "Não Adianta" para tentar animar um então chateado Raul Seixas que pensava em desistir de sua carreira pouco antes de seu primeiro disco estoura em vendas.

Sergio Sampaio morreu com apenas quarenta e sete anos sem o devido reconhecimento.
Enquanto isto, porcarias infestam rádios, redes sociais e streamings e lotam casas por aonde vão.
Mas como diria o próprio Sergio Sampaio em “Tem que acontecer”:
Mas não posso fazer nada
Eu sou (sou só) um compositor popular.

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