A Concert For Life: The Freddie Mercury Tribute Concert, 28 anos do maior espetáculo da terra

O Queen e Freddie Mercury surgiram grandiosos, pomposos e superlativos.
Os discos, títulos de músicas que soavam até um tanto arrogantes...Os vídeos, as histórias as vezes hilárias, as vezes estarrecedoras.
E assim foi durante toda a carreira da banda.

Quando Freddie se foi em decorrência da Aids, a banda, absolutamente abalada, pensou em uma forma para não só celebrar a vida, a obra e a memória de seu cantor, compositor e amigo com a mesma grandiosidade e pompa com que se apresentou durante anos.
Não só... Pensou também em como isso poderia ajudar a conscientizar sobre o perigo de uma doença ainda pouco conhecida, sem cura, com poucos e caros remédios paliativos e que atraia sob si uma carga de desinformação e preconceito tão ou mais danosa ao ser humano quanto ela própria.
E como não poderia deixar de ser, a melhor forma seria apresentar a obra de Freddie em um grande espetáculo com transmissão via satélite, em um local grandioso e de memória afetiva aos fãs da banda.
O local escolhido foi o estádio de Wembley, em Londres onde em 11 e 12 de julho de 1986 o Queen fez shows absolutamente sold out, com uma plateia estimada em 150 mil pessoas ao todo (você pode conferir o som e as informações no encarte do disco Live At  Wembley 86).
O Queen se apresentaria, mas era necessário chamar ainda mais a atenção.
Grandes nomes foram sendo convidados, confirmando presença e tornando aquele evento tão (ou mais) grandioso que o Live Aid de 1985.
O evento foi tomando forma e então no dia 20 de abril de 1992, May prometeu a Mercury “a maior festa de despedida da história”, Roger Taylor  deu as falas para fixar os objetivos: “Hoje é pra Freddie, pra vocês, é pra dizer a todo mundo que a Aids afeta a todos. É essa a razão dessas fitas vermelhas. E vocês podem chorar tudo o que quiserem”.
Deacon como de costume em sua vida com o Queen foi curto e grosso: “O show tem que continuar!”
Era a senha para que o desfile de gigantes começasse: A Concert For Life: The Freddie Mercury Tribute Concert for AIDS Awareness.

Metallica, o Guns´n´Roses, Extreme e Def Leppard que nunca fizeram a menor questão de esconder a admiração e a influência do Queen em suas carreiras fizeram o open act.
Enquanto Metallica e Guns tocaram suas próprias canções, Def Leppard mesclou as suas com alguns hits do Queen. Já o Extreme tocou apenas canções da banda de Freddie com perfeição abrindo espaço apenas para seu sucesso “More Than Words”, claramente inspirada em “Love of my Life” (na qual a canção veio colada durante a apresentação).
Então, quando a luz do sol começou a se despedir, o espetáculo de verdade teve início.

Freddie sempre foi adepto de gestos grandiosos e com certeza teria aprovado a escolha dos organizadores em não ter apenas um cantor para fazer sua vez em quanto a banda estivesse no palco.
Assim, com o Queen fornecendo a música (com o auxílio luxuoso de Tony Iommi) uma constelação se revezou ao microfone cantando as palavras que antes Mercury cantara.
Nomes lendários como Robert Plant (“Crazy Little Thing Called Love”, “Innuendo”), Roger Daltrey (“I Want it All”), Seal (“Who Wants to Live Forever”), Zucchero (“Las Palabras de Amor” em que foi até interessante ver um italiano cantando em espanhol...) entre  muitos outros prestaram tributo e fizeram sua parte pela causa.
Axl Rose, James Hetfield, Gary Cherone e Joe Elliot também voltaram na segunda parte do show.
Gary visivelmente emocionado e Joe Elliot sempre seguro (cantou “Tie Your Mother Down” ao lado do Slash, Queen e Tony Iommi) foram ligeiramente ofuscados por Axl Rose, que junto com Elton John, deram um brilho novo à “Bohemian Rhapsody”.
Quem viu deve se lembrar, mas nunca é demais lembrar do desconforto do cantor do Metallica ao ficar em frente ao microfone sem uma guitarra nas mãos. A sua versão de “Stone Cold Crazy” com o Queen ficou milhões de furos acima do que foi gravado em seu disco “Garage Days”.

Mas foi a figura de David Bowie, que trouxe consigo Mick Ronson e Ian Hunter (parte do Mott the Hople, banda à qual o Queen abriu os shows no começo da carreira), que acabou roubando a cena.
De terno verde e esbanjando charme, cantou sua “Under Pressure” com Annie Lennox e se ajoelhou no palco puxando uma oração.

Freddie também teria ficado encantado com a performance de George Michael que foi o único de todos os presentes a ter sua apresentação registrada em discos oficiais do Queen: o ep Five Live e a coletânea Greatest Hits III.
Por fim, não houve olhos sem lágrimas quando uma das grandes amigas (e ídolo) de Freddie, Liza Minelli, veio ao palco para cantar “We Are The Champions” e encerrar o evento.
God Save the Queen com todos abraçados no palco era algo dispensável, apesar de esteticamente bonito e muito útil à causa.

O show foi transmitido no Brasil pela TV Bandeirantes e ficou disponível em VHS por algum tempo sendo relançado em DVD duplo nas comemorações de dez anos do evento.
Diferente do Live Aid, onde perguntado se haviam conseguido alcançar seus intentos, Bob Geldolf respondeu um sonoro “não”, o concerto para Freddie atingiu sua meta.
Mais de 72 mil pagantes (os ingressos se esgotaram em três horas) presentes no estádio, os direitos de transmissão, venda de merchandising e doações pedidas durante a apresentação arrecadaram uma quantia considerável de fundos para a The Mercury Phoenix Trust, entidade que pesquisava e amparava os portadores da doença que tinha a curadoria de Brian, Roger Taylor e Mary Austin.
A missão estava cumprida e, onde quer que estivesse, Freddie teria aprovado.
Carry on, my dear

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