A juventude é uma música em uma propaganda qualquer

Musica e publicidade sempre andaram de mãos dadas...
Por vezes, como no caso do mineiro Tavito, andaram tão juntas que são quase indissociáveis. Idem com Zé Rodrix...
Nem sempre com fins nobres, canções com temas controversos usadas para vender produtos “inofensivos” ou estimular práticas e consumos que iam claramente contra as crenças e atitudes pregadas por seus autores.
Ver e ouvir “Love of My Life” associada à um comercial de banco chegava a ser hilário e assustador ao mesmo tempo...

Durante boa parte dos anos 80/90 o cigarro era algo tolerado e até incentivado sendo retratado pelos meios de comunicação como como algo intimamente ligado ao charme, a boa vida e aventuras.
Marcas de cigarro eram veiculadas durante eventos esportivos na total contramão do que sempre pregou a OMS sobre os males do tabagismo para a saúde física e mental.
No automobilismo, último bastião da propaganda de cigarro no mundo, onde durante muito tempo contribuiu com muito dinheiro, era ligado à imagem destemida e corajosa dos pilotos que arriscavam a vida nas pistas e depois se recompensavam relaxando com o cilindro de papel e fumo, bebidas e mulheres... Tudo (excetuando-se as mulheres) que alguém que arrisca a vida à 300 Km deve manter distância.

Com o declínio da popularidade do automobilismo entre o público mais jovem e com a necessidade de atingir essa parcela de consumidores, a indústria do tabaco começou a se utilizar de uma classe que nunca fez julgamento sobre o uso do tabaco e que também nunca escondeu seu uso: os músicos.
Marcas como a Marlboro criaram campanhas se utilizando o country como fundo e era comum ver cowboys norte americanos com os cigarros no canto da boca, afetando ares de durão enquanto um clássico do gênero fazia fundo para a frase: “venha para o mundo de Marlboro”.
Outras marcas, mais espertas e de olho no publico jovem resolveram investir no, então popular, nicho do rock and roll.


Patrocinavam turnês, criavam festivais (aqui no Brasil tivemos por vários anos o Hollywood Rock, responsável diretamente pela primeira vinda dos Rolling Stones, por exemplo) e investiam maciçamente em propaganda com o gênero como música de fundo.
Kansas, Asia, Reo Speedwagon, Peter Frampton e o Survivor nadaram de braçada com o dinheiro vindo dos direitos de utilização de suas músicas nestas peças publicitárias.
E havia uma espécie de fórmula para as músicas: riffs contagiantes, refrões altamente assobiáveis e melodia extremamente grudenta.
Um exemplo? “Eye of the Tiger”, do Survivor... Aposto que lembrou de todas as outras agora.
Com as campanhas anti tabagismo e a conscientização de que cigarro é um agente cancerígeno em potencial, aliado à proibição das campanhas publicitárias que não veiculassem os problemas causados pelo vício, as peças publicitárias com a utilização de músicas e artistas de sucesso tomaram outros rumos.
Fumar, além de prejudicial à saúde se tornou feio, cafona... E com razão.

A música seguiu aliada à publicidade em peças as vezes hilárias, as vezes emocionantes.
Quem não se lembra, por exemplo, do filme publicitário criado pela DM9 para o combate ao preconceito com pessoas portadoras da síndrome de down?
A canção “Fake Plastic Trees” do Radiohead foi fundamental para criar a empatia e dar carga emocional à história de Carlinhos.
Pode-se dizer que a popularização da banda no país se deu muito mais a essa peça do que às canções que já tocavam nas rádios na mesma época.
Ou então da bela peça publicitária da Faber Castell que utilizava “Aquarela”, do Toquinho enquanto desenhos iam tomando forma e se modificando na tela da tv.
Por conta deste comercial, até hoje professores colocam a canção em todos os vídeos de fim de ano, powerpoints ou apresentações das crianças sem nem se importar de ver os pequenos reproduzindo uma letra que explica, de uma forma sutil e poética, que todos vamos morrer um dia: “...e descolorirá!”

Um dos casos mais curiosos do uso da música em propagandas é o comercial da Pepsi de 1990 que se utiliza da canção “Brown Sugar”, dos Rolling Stones.
O filme mostrava um mosquito bocudo ficando muito louco após tomar uma gota da bebida que havia respingado na mesa.
Só para lembrar, “Brown Sugar”, originária do disco Sitcky Fingers, de 1971 é sobre um tipo de heroína pura, muito viciante, vinda do México.

Existem outros N casos de filmes publicitários com músicas de sucesso mostrando que Humberto Gessinger tinha razão quando disse que: “a juventude é uma banda em uma propaganda de refrigerantes.”
Ou de carros, ou de bancos, ou...

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