Crowley: O bruxo “influencer” de rockeiros (2)


Dando continuidade a nossa série sobre o "doidaço" Aleister Crowley, considerado por alguns como uma das figuras "admiráveis" do começo do século XX, chegamos ao ponto chave de nossa série. Quem dos famosos, consideravam Crowley esse tipo de pessoa?
Um deles já demos um pequeno indicativo: o guitarrista do Led Zeppelin, Jimmy Page.

O que levaria uma pessoa a comprar uma das casas que pertenceu a Aleister Crowley? Quem fosse fã, certo? E esse era o caso de Page. É por conta dele basicamente que o Led Zeppelin tem toda uma fama de ter flertado com ocultismo. O guitarrista levou a sério os estudos esotéricos por muito tempo, e era tão fã de Crowley que comprou a sua casa na Escócia, uma mansão com fama de castelo, chamada Boleskine House, localizada próximo ao Lago Ness. Sim, é esse mesmo! É o lago que conta com "inquilino" um serzinho pescoçudo, pouco sociável e, talvez por isso, tímido. Nessa quarentena, deve ser o único naquelas bandas que está achando uma maravilha o "distanciamento social" (risos...) 

A região então já contava com certa, sobrenaturalidade. O "bicho", que ninguém em sã consciência confirma existência, é uma lenda antiga. Um missionário irlandês em meados do ano 500 d.C. teria visto o animal no lago e registrado a "informação". Mas só em 1933, o jornal Inverness Courier reportou que uma mulher chamada Aldie Mackay disse ter visto o que seria o monstro do lago, parecido a uma baleia, enquanto as águas "se agitavam". Na ocasião o editor do jornal, Evan Barron, sugeriu que o ser fosse descrito como um "monstro" numa jogada de marketing que daria início ao mito moderno do "Monstro do Lago Ness".

No ano seguinte, um respeitado cirurgião britânico, o coronel Robert Wilson, afirmou ter fotografado o "monstro" enquanto dirigia pela costa norte do lago. A imagem foi publicada pelo jornal The Daily Mail, e despertou curiosidade no mundo inteiro. Logo, começaram a especular que o animal da foto poderia ser um plesiossauro, extinto há 65,5 milhões de anos. Essa foto, todos nós conhecemos:


Conto um segredo, só aqui entre nós: 60 anos mais tarde, "descobriram" que o "monstro" da foto do cirurgião era, na verdade, um submarino de brinquedo.
A região então era envolta de algumas fofocas que davam pauta.
A mansão de Crowley não seria diferente. Tendo ele como dono, logo depois de ser vendida, ficou taxada de mal assombrada. Depois de ter iniciado (e não finalizado) um ritual de evocação de demônios na residência, o bruxo garantiu a fama para quem passou a morar na dita cuja, que, por coincidência ou não, passaram por maus bocados.


Simpática, não? Mas ali houveram, além dos rituais macabros de Crowley, um episódio de suicídio e um misterioso incêndio. Parte da casa pegou fogo em 2015, o indício das chamas não foi informado e as notícias dão conta (claro, para reforçar a lenda) de que o incêndio teria começado, do nada.

Um de seus ilustres moradores foi Jimmy Page. Olhem ele aí, no mais estilo mendigo gato (só que não), fazendo pose na frente da casa:


Segundo ele, a casa era assombrada por uma cabeça decapitada. Local legal de viver!!! Com essa "boa" companhia, Page quis viver lá, nem que fosse por um tempo. 
Talvez pensasse como Crowley que comprou a residência isolada e longe de perturbações, dizendo que só assim poderia entrar em contato com o Sagrado Anjo Guardião. O tal contato se iniciou, mas o cara não finalizou e deixou uma fama esquisita para a residência.
No fundo, ele devia estar procurando um lugar para se afastar de todos e poder fazer as suas excentricidades, sem que autoridades pegassem no seu pé, e poderia ter contado com essa para sempre. Crowley vendeu a residência na Escócia em 1913, mas mais tarde, em 1920 fundou a abadia da Thelema na Sicília, Itália. Lá se praticava abertamente a magia, no entanto, três anos depois de sua "inauguração", um seguidor da seita, (com um nome que parece inventado) Raoul Loveday, morreu depois de beber sangue de um gato sacrificado. Benito Mussolini ordenou a expulsão de Aleister Crowley do país, afinal de contas, essas bagunças ali na Sicília não dava. No máximo, uma turminha de máfia, mais tarde implementar um governo fascista... Mas atividade escusas como beber sangue de gato, aí já é demais!!!


A  vontade era tanta de estar mais ligado ao ocultismo que, diante da falta de livrarias e editoras especializadas em Londres, Jimmy Page decidiu abrir "The Equinox Booksellers and Publishers". Lá eram vendidas publicações de Aleister Crowley entre outros itens sobre ocultismo. Em 1979 o arredamento da livraria não era suficiente para mantê-la e ele não desejou mudar os rumos dos negócios.
É por aí que muitos dizem que o músico adquiriu a coleção de livros de ocultismo de Crowley, e se essa era a sua intenção, além de formar um núcleo de divulgação desse tipo de conhecimento, tinha tido sucesso. Estes livros teriam feito a cabeça de Page. Ele considerava Aleister um gênio "mal compreendido" pelas pessoas comuns (porque será, hein?) e suas obras literárias eram "um estudo para a vida".
Esse "misticismo" todo acabou tendo ressonância no Led Zeppelin em todo o seu período de atividade. Comenta-se que, sem que as pessoas da platéia soubessem, Jimmy Page realizava rituais apreendidos de Crowley durante algumas apresentações da banda.

Além disso, no selo do álbum Led Zeppelin III existiria uma vela mortuária onde leríamos o slogan da Thelema ("faça o que tu queres" – conforme comentamos na primeira parte dessa série). Sobre a inscrição, Jimmy Page confirma e diz que "foi colocada segundo instruções, mas sob o manto do mais estreito segredo".
Clássicos como Black Dog e Stairway to Heaven traziam referências a Aleister Crowley. A mais famosa canção do Zeppelin trás na letra algo que é comumente associado ao poema "The May Queen" do mago:



If there’s a bustle in your hedgerow
Don’t be alarmed now
It’s just a spring clean for the May queen
Yes, there are two paths you can go by
But in the long run
There’s still time to change the road you’re on
And it makes me wonder
(Se houver um farfalhar em seus arbustos / Não se assuste / É só o recomeço antes da Primavera / 
Sim, há dois caminhos que você pode seguir / Mas no final / Ainda há tempo para mudar o caminho que você segue

A "Rainha de Maio" é uma personificação do feriado do 1º de Maio, celebração da primavera e do verão. Consiste em uma celebração onde uma menina caminha na frente de um desfile usando um vestido branco para simbolizar a pureza. É ela quem inicia a festa, sendo coroada com flores e fazendo um discurso antes da dança começar. Determinados grupos étnicos dançam em volta de um mastro enfeitado celebrando a juventude e o tempo de primavera.

De acordo com o folclore, a tradição já teve um toque sinistro, em que a "Rainha de Maio" teria sido condenada à morte uma vez que as festividades tivessem acabado. A veracidade dessa crença é difícil de estabelecer já que fontes como essa são passadas de geração à geração e nós não sabemos o quanto elas foram afetadas por outras culturas e/ou passagens históricas. Ao que tudo indica, pode ser apenas uma memória popular dos antigos costumes pagãos, muito comuns na Europa, especialmente na porção norte. Ainda assim, as associações freqüentes entre os rituais do Dia de Maio, ao ocultismo e ao sacrifício humano são encontradas na cultura popular na contemporaneidade. O filme The Wicker Man de 1973, estrelado por Christopher Lee, é um exemplo ótimo dessas associações. Falaremos mais dele, quando nos voltamos à outra banda que se inspirou em Crowley para compor músicas, mas a história do longa tem entusiastas aos montes.
Um policial recebe uma carta anônima sobre o desaparecimento de uma jovem e vai até a remota ilha de Summerisle para investigar o caso. Lá, ele se depara com costumes diferentes de suas crenças cristãs: os habitantes da ilha escocesa seguem tradições pagãs, isto é, celtas. Buscando resolver o problema do desaparecimento da jovem, e suspeitando o pior, ele se vê envolvido numa série de intrigas.
O filme explora de forma bastante verossímil os antigos ritos e costumes do paganismo, especialmente a Festa de 1º de Maio, Festival da Primavera ou Festival de Beltane (de origem celta) que aqui a gente nem sonha em praticar. O que nos é comum ficarmos em casa, pois é o Dia do Trabalho...

O quarto álbum lançado pelo Led Zeppelin, não tinha nome, apenas símbolos. 



Coisa simples, muito ligado à esoterismo, misticismo. Vejam bem: Conhecido como ZoSo, um dos álbuns mais vendidos da história, chamou muita atenção logo ganhou o título simbólico. “Nós decidimos que o álbum não poderia ser chamado de Led Zeppelin IV. Cada um de nós decidiu escolher um símbolo metafísico que nos representou individualmente”, revelou o vocalista Robert Plant.

O primeiro símbolo "Zoso" foi escolhido por Page, e é usado para rituais referentes ao planeta Saturno. Segundo a Astrologia, esse é o planeta regente do signo de Capricórnio e de Aquário. Page é de Capricórnio.
O segundo símbolo é o de John Paul Jones, foi retirado de um livro de runas e é uma Triquetra – símbolo proveniente da cultura celta, hoje muito popular e repleto de significados. Parece estar relacionado aos três planos: o Material, o Astral e o  Mental.
O terceiro pertence à John Bonham, semelhante com o JPJ, e encontrado no mesmo livro de runas. O símbolo também é encontrado em desenhos egípcios que representam a figura de Thoth com um bastão com esse símbolo circular gravado. 
O último é escolha de Robert Plant, e também tem ligação com crenças egípcias da Antiguidade: concebe a pena ou pluma da deusa egípcia conhecida como Ma'at, Maet ou Maat. Ela é a deusa da justiça e equilíbrio, e nos gráficos está representada com pena na sua cabeça.

No encarte do álbum, há algo que já comentamos aqui. Um velho de capa, com um cajado, segurando uma lanterna, e no interior dela, uma estrela de 6 pontas - um hexagrama. Muita gente associa essa figura com Gandalf, personagem criado pelo autor inglês J. R. R. Tolkien, mas não sem razão. Escrevemos uma matéria completa sobre a influência da literatura do autor nas músicas do Led Zeppelin (ler aqui). Ele foi também muito lido e abordado no cenário artístico da contra cultura, e isso não seria nenhuma estranheza. Mas, de acordo com alguns sites de ocultismo, essa figura do encarte seria, na realidade, o Eremita ou o Ermitão - o 9º Arcano maior do Tarot.

Outra referência (dessa vez um tanto forçada) sobre a relação a Aleister Crowley e Led Zeppelin pode estar no nome do selo Swan Song ("o canto do cisne") Records, gravadora da banda. O termo já havia sido usado por Page em uma composição própria, instrumenta, que nunca teria entrado nos discos, mas quase foi uma das faixas do disco Physical Graffiti (1975). Essa associação do Swan Song estaria atrelada à uma das alcunhas de Crowley;  Paramahamsa, que em sânscrito significaria "cisne divino" ou "cisne supremo". (Será que Crowley queria contato com o Monstro do Lago Ness – que para ele, era um enorme cisne, uma divindade que apareceria naquele lago? Ok, eu sei que estou inventando agora, mas não resisti!)

Uma das coisas que estão em torno de bandas ou músicos da cena rock é a ligação com o "satanismo" – e esse termo às vezes é mudado para "ocultismo" talvez com a intenção de "assustar" menos (?), mas eles são diferentes: Satanismo está vinculado ao consenso de adoração e culto à Satã. Enquanto dissenso, ela é uma crença que foca no indivíduo, sendo este o seu próprio "deus" o seu próprio "demônio". Já o Ocultismo é o estudo ou abordagem inteligível sobre o oculto, o sobrenatural, o paranormal. Se opõe ao conhecimento mensurável - a ciência, a lógica. 

Comenta-se muito, na mídia, sobretudo, que alguns músicos, teriam "vendido as suas almas" ao Diabo em troca de sucesso. Essa lenda é repetida em muitos contextos e com personagens trocados. Lembraram do caso do "blueseiro" Robert Johnson? Pois é!!!!
Os membros do Led Zeppelin, excetuando de John Paul Jones, tiveram essa parcela de fama. Teriam feito um pacto demoníaco trocando sua alma imortal pelo sucesso terreno e isso ficou marcado.

É uma bobagem que certamente nem cabe discussão. É uma curiosidade boba sem cientificismo, talvez até muito maldoso que alguém tenha levantado essa hipótese e levado ela a sério alguma vez na vida. Ao invés de atribuir o sucesso conquistado pelos músicos como o mais lógico resultado obtido pelo talento deles, atribui-se isso a uma lenda sobrenatural. Se dá uma explicação impalpável para o sucesso de muitos como se só pudesse ser obra do Tinhoso alcançar algo tão extraordinário... Oras, que chato seria a hora que o Capiroto viesse cobrar a dívida, hein?
Pois, no próximo post desta série, a gente vai falar sobre algo nesse sentido... 
Palpites de quem se trata?

Abraços afáveis (virtuais, até antes do isolamento social...)!

Comentários

  1. Interessante esse texto! Tem várias informações nas quais eu nem imaginava!

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