Desde os tempos mais antigos, especialmente no período da Idade Média, superstições ligadas ao além estavam
relacionadas a praticamente tudo: calamidades naturais, carestias, epidemias e
é claro, os mistérios da morte. Com o advento do cristianismo, o grande protagonista desses "impasses" era o
Diabo, mas não sem a companhia de uma turma seleta: magos, feiticeiros, bruxos
e bruxas, espíritos/fantasmas faziam parte da "gangue" terrena da entidade.
Um dos textos básicos deste período,
chamado Canon Episcopi tem origem incerta, mas é voltado para as problemáticas
inerentes ao que conhecemos como "bruxaria", e o demônio é colocado como o
interlocutor dessa prática.
Em tempo, até hoje se associa a práticas
de rituais de bruxaria com o culto à Satanás, pois este, capaz de criar
ilusões, faz crer serem possíveis coisas absurdas como, por exemplo, o vôo de
bruxas – se não literalmente, pelo menos, em espírito.
O Diabo que aparecia para monges, sempre
era retratado com feições monstruosas. As suas aparições - acreditavam alguns - tinha propósitos: fazê-los ficar atentos ao pecado da carne e forçá-los à uma
provação, já que o para o Demônio, a maior "diversão" seria se apoderar do
homem e levá-lo à perdição eterna, se aproveitando de sua debilidade. A coisa
muda de figura no folclore, quando a tal Entidade Maligna tem um aspecto diverso: é fanfarrão e quase sempre, leve. Isso talvez tivesse também uma razão de ser: assim, de alguma forma ou de
outra, exorcizava-se o terror que "ele" poderia causar.
O que podemos dizer é que a imagem do
Príncipe das Trevas era uma sobreposição da imagem difundida a partir das
passagens bíblicas com os diversos elementos provenientes da matriz pagã,
especialmente as da região nórdica – como celtas e germânicos – e os da região eslava. No período
medieval em que os encontros entre a religião cristã e cultos pagãos estavam a
todo vapor, o Diabo, mediante uma absorção de todas as referências dispostas na
cultura da época, assume uma série de características que eram próprias das
divindades dessas crenças pagãs – por exemplo: os chifres de Cernuno, deus da
fertilidade e dos infernos de origem celta; a predisposição sexual bem como a
aparência caprina de Pan, e as obscuras características de Wotan/Odin, senhor
da guerra e da destruição no panteão nórdico.
Acompanhando todo esse imaginário
popular, através dos séculos, a imagem do Capeta, pouco mudou. A sua associação
com rituais – por mais simples que fossem – nunca deixou de existir entre as
sociedades, apesar da modernidade e da era da razão.
A figura de Aleister Crowley e toda o
seu misticismo se associa fortemente como um seguidor de Satã, especialmente
para conservadores. Crowley no auge da Idade Média, teria sido não só perseguido, como condenado e morto na Inquisição, sem sombra de dúvidas, já que
declaradamente, a Thelema possui preceitos estranhíssimos até para quem tem a mente aberta.
As pessoas adeptas a ocultismo são
também, geralmente, críticos (ferrenhos até) dos comportamentos da sociedade
cristã. Assim, a lenda que alguns destes possam ter praticado rituais que
evocassem o Tinhoso, orbita os famosos que tenham se declarado ocultistas ou
admiradores de Crowley.
Surgiu na década de 1970 uma banda
inglesa - especificamente de Birmingham - cujos membros que a compunha pareciam bem subversivos e faziam uma música, assustadora. Considerados
mentores do Heavy Metal, eles faziam um som que, de qualquer forma era
mesmo "pesado"; obscuro e sinistro. O que eles tocavam soava
diferente e traziam
arrepios às pessoas que ouviam os acordes. Aliado à guitarras distorcidas, ainda havia um cantor esganiçado.
Sim, falamos de Black Sabbath. A nota si
bemol foi proibida de ser tocada em uma música nos tempos de Idade Média. A
mentalidade da época, entendia que o som dessa escala "evocaria" a Besta. Com os riffs icônicos do guitarrista Tommy Iommi vem à tona o que comumente identifica o estilo heavy
metal: um "som satânico" representado pelo chamado "tritão", isto é, o si bemol.
E com um nome de Black Sabbath e uma sonoridade "demoníaca" que era o que apetecia os caras, acabou sendo impossível que tudo que girasse em torno da banda, não
fosse associado ao próprio Demo. Dali em diante, era apenas uma piscadela para
rotular o Sabbath como um tipo de banda satanista.
No documentário Metal – A Headbanger’s Journey do antropólogo Sam Dunn (2005), Iommi menciona que em uma cidade que o Black Sabbath faria shows (ele não se lembra qual exatamente), a comunidade de uma igreja não queria deixar que o evento acontecesse. Ainda que sob protestos, o show aconteceu e logo depois, a igreja pegou fogo. Nada teria a ver com eles, Iommi acrescentou, mas é claro que eles acabaram "culpados" do incêndio.
Além da música que faziam, imagens de cruzes (símbolo
do cristianismo) invertidas ou em chamas, não ajudavam no recorte fotográfico do
Black Sabbath. Muita gente passou a confundir o fato de fazerem um som sombrio
com tendências ocultistas, e até mesmo, vinculando as suas pessoas como
praticantes de magia negra nas apresentações ao vivo. Não bastou que o integrantes usassem crucifixos (normais) ou negassem que cultuassem
o Capiroto. Fizeram e foi em vão.
Muita gente ainda associa a banda com o cantor de formação, Ozzy Osbourne, mesmo que ela tenha sobrevivido muito mais tempo sem ele. Ozzy deixou o Black Sabbath logo após o lançamento do
disco Never Say Die! (1978) por conta do seu já notório problema com drogas e
desavenças com os colegas de banda, em especial, Iommi - seguramente o líder do grupo.
Aspirando a carreira solo, Osbourne ficou um
tempinho fora "do ar" e depois preparou um retorno com um álbum poderoso, o
Blizzard of Ozz (1980). Sua banda teria Randy Rhoads (do Quiet Riot), Bob
Daisley (do Rainbow), Don Airey (também do Rainbow, Gary Moore) e Lee Kerslake
(do Uriah Heep). O disco debut trazia músicas que, mais tarde, se tornariam os
clássicos do Heavy Metal: Crazy Train, Goodbye To Romance, I Don’t Know, a
controversa Suicide Solution.
Coisas estranhas acontecem com aqueles
que são associados ao demônio. Lembram da postagem sobre os Rolling Stones e
Symphaty of the Devil? Pois bem. No caso do Ozzy, algo semelhante ocorreu em sua carreira parece que para corroborar que toda a imagem maléfica estava inerente ao músico.
Em outubro de 1984, depois do fim da
tour do seu terceiro álbum solo Bark at The Moon (1983) um jovem de 19 anos,
chamado de John M. cometeu suicídio. De acordo com a polícia, a música
Suicide Solution ainda tocava em seus fones de ouvido quando o corpo fora
encontrado. Dois anos depois, três processos de "incitação ao suicídio" vieram à
tona e, em janeiro de 1986, através de seu advogado, a família
de John acusou Ozzy no documentário Don’t Blame Me, de utilizar uma técnica
conhecida como "hemisync", que consiste em sincronizar as ondas dos hemisférios cerebrais para se atingir estados alterados de consciência,
tornando o ouvinte - em uma espécie de transe - aberto às sugestões e capaz de vívidas alucinações. O
processo durou quase um ano e foi arquivado pela Suprema Corte da Califórnia, muito provavelmente por se tratar de uma prova muito subjetiva.
A música Suicide Solution, foi escrita
após a morte de Bon Scott (vocalista do AC/DC) por hipotermia. Ele adormeceu
bêbado em seu carro durante uma noite de inverno, e "capotou". A música não "incita
o suicídio" conforme foi sumariamente acusada de ser o gatilho para suicídios de jovens problemáticos e desestruturados, mas adverte sobre os perigos do consumo excessivo de bebidas
alcoólicas.
Ozzy com a sua voz esganiçada, atraía (e atrai) olhares e ouvidos atentos. Lá no seu álbum de estreia, outra faixa – além de
Suicide Solution - chamou a atenção. Nesse álbum, estava incluso uma faixa
intitulada Mr. Crowley. ò o "homi" aí de novo, minha gente!
A letra de Mr. Crowley era assinada
também pelo baixista Bob Daisley, feita com o intuito de amplificar ainda mais
a imagem subversiva de Ozzy Osbourne, que, com o tempo, passou a ser apelidado
de Príncipe das Trevas - um outro jeito de nomear o governante do plano de
baixo.
Ozzy teria feito mais ou menos como John
Lennon e Jimmy Page - chamou Crowley de "fenômeno da sua época" e gravou a
música em tributo ao mago. Mas a letra não parece ser tão exaltação da imagem do bruxo ocultista. Parece até uma cutucada irônica sobre as coisas que ele dizia ser capaz de fazer.
Mr. Crowley, what went on in your head?
Oh, Mr. Crowley, did you talk to the dead?
Your life style to me seemed so tragic
With the thrill of it all
(Sr. Crowley, o que se passava pela sua cabeça? / Sr. Crowley, você falava com os mortos? / Seu estilo de vida me parecia tão trágico / Com toda aquela emoção)
You fooled all the people with magic
You waited on Satan's call
Mr. Charming, did you think you were pure? ...
(Você enganou todas as pessoas com magia / Você esperou ao chamado de Satã / Sr. Encantador, você achava que você era
puro?...)
Com muita história sobre seus atos esquisitíssimos
e incontroláveis dentro e fora dos palco, o próprio Ozzy confessou em uma
entrevista que não sabia por que ele tinha feito tanta coisa estranha na vida -
inclusive o incidente mais famoso de morder um morcego, vivo, que foi jogado
por um fã no palco, em Des Moines, Iowa, EUA em 1982 (foto ao lado). A mídia fez
um baita estardalhaço e colocou a cidade, no mapa de uma vez por todas (é de lá que vem o
Slipknot, inclusive). O que não foi contado na época é o que realmente
aconteceu: um baita susto de Ozzy, que teve sangue de um animal escorrendo pela boca, um gosto
horrível, explicações para as autoridades e doses de vacinas anti rábicas. Em sua autobiografia,
ele conta que jamais teria feito isso se soubesse que se tratava de um morcego
real.
Ele certamente estava doidão, as autoridades ficaram enfurecidas com a ação, e isso foi retratado - com uma boa dose de sensacionalismo por parte da imprensa - com sarcasmo e interpretado como ritual diabólico que não deixou de causar comoção, mesmo que não tenha sido premeditado. O furor ocorreu tanto para o delírio entusiasmado do público fã quanto a reação de horror dos demais que nem sabiam quem era ele, mas passaram a conhecer.
Recorte de uma manchete de um jornal local |
Numa das turnês que fez junto com o
Mötley Crüe, conta-se que os músicos viram Ozzy "cheirar formigas" vivas como
se fossem pedacinhos de cocaína ambulantes. O fato até aparece na cinebiografia
da banda - The Dirt - Confissões do Mötley Crüe - está disponível na plataforma da Netflix (que por sinal, recomendamos). Se é verdade ou "pozinho
mágico" não temos certeza. Fato é que a fama correu e colocou Ozzy em evidência
por décadas no imaginário musical.
Sob efeito de drogas em todas as
ocasiões loucas que protagonizou, Osbourne se arrependeu de várias delas e teria
revelado em mais de um momento que desejava que não tivesse agido assim por
influência de Satanás, como diziam. Até para Ozzy essas coisas teriam que ter
limite.
Quem diria, que um dos caras mais doidos que
temos no cenário Heavy Metal, sóbrio, tem bom senso e é mais contido a respeito dessa coisa toda de
ocultismo e o diabo? Quem diria...?!?
Abraços afáveis e até a próxima!
Abraços afáveis e até a próxima!
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