8 anos de Clockwork Angels, a última obra-prima do Rush, por Lucas Cariolli

Parece incrível, mas estamos completando oito anos do lançamento de Clockwork Angels, aquele que viria a ser o último álbum do Rush. Com uma interessante história fictícia ligando músicas inspiradas, essa “Opera Rock” moderna pode ser considerada a última obra-prima deixada pelo lendário power trio canadense. 

Desde que havia voltado às atividades em 2001, após o hiato decorrente das tragédias pessoais de Neil Peart, o Rush soava um pouco diferente. 
Os discos Vapor Trails (2002) e Snakes and Arrows (2007) tem como características músicas curtas, sem relação umas com as outras, poucos teclados, guitarras estridentes, vocais contidos e uma clima bem orgânico. 
Embora tenham sido discos recebidos, fica a sensação que estava faltando alguma coisa. Um pouco mais de “substância”, talvez. 
Foi isso que eles tentaram resolver nas primeiras discussões sobre Clockwork Angels, quando nasceu a ideia de um álbum com uma história por trás, em oposição a uma coleção de músicas soltas, como vinham fazendo desde Permanent Waves (1980).
Fazia muito tempo que o Rush não fazia um disco conceitual. 
Os últimos haviam sido os aclamados 2112 (1976) e Hemispheres (1978) e ainda assim, apenas parcialmente conceituais. 
Mas o Rush nunca foi uma banda de ficar presa ao passado. Eles evoluiram com o mundo e simplesmente não queriam voltar a fazer o mesmo som de quarenta anos antes.
Completamente desenvolvida por Neil Peart, a história de Clockwork Angels gira em torno de um jovem que viaja por um mundo exótico e colorido, recheado de piratas, anarquistas, cidades perdidas de ouro e um relojoeiro rígido que impõe precisão em todos os aspectos da vida cotidiana. 

Com esses temas em mente, Geddy Lee e Alex Lifeson trabalharam as bases durante ensaios da turnê “Time Machine Tour” (2010-2011).
O resultado foram as ótimas “Caravan”, “BU2B”, “The Anarchist”, “Halo Effect”, “Wish Them Well”, “Seven Cities Of Gold”, e “The Garden” (essas duas últimas, as minhas preferidas desde o retorno da banda). 
Embora façam parte de uma narrativa, as canções também funcionam perfeitamente sozinhas. 
A sonoridade foi aprimorada, ficando menos caótica e mais melódica, mas sem perder o senso orgânico dos discos anteriores.
Para chegar a isso, Neil Peart, um homem naturalmente otimista, dedicou-se com afinco: "Pretendo que seja a minha maior conquista liricamente e em termos de bateria”, disse durante as sessões. 

Até o método de gravação foi otimizado com uma espécie de maestro, que fazia o baterista atacar seu instrumento conforme pedia. 
A capa desenhada, como sempre, por Hugh Syme mostra um relógio com símbolos alquímicos no horário 21h12, uma clara referência ao clássico de 1976.
Todo esse esforço foi recompensado. Clockwork Angels estreou em primeiro lugar nas paradas canadenses e em segundo na Billboard 200 norte-americana. 
A revista Classic Rock disse, na época, que era “o melhor lançamento do Rush em 30 anos” e em 2019 classificou-o como “o álbum número 1 dos anos 2010”. 


Embora essas impressões possam soar exageradas, a verdade é que as músicas da era moderna do Rush estão envelhecendo muito bem. 
Recentemente ouvi Vapor Trails novamente e fiquei impressionado com o quão é bom. 
Fiz o mesmo com Clockwork Angels e continua ótimo, senão ainda melhor. 
É o que nos resta, ouvir o seu precioso legado, já que a morte de Peart nesse estranho 2020 demoliu de vez nossas esperanças de ver o Rush novamente ao vivo. 
Aproveite sem moderação!

Lucas Carioli, editor do site Notícias Motociclísticas 
e baixista discípulo de Geddy Lee "aposentado".

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