A revolta dos ternos de zoot

Quando Will Smith disse que o racismo nos EUA não estava piorando, só sendo filmado, ele estava coberto de razão...
Um exemplo disso são os Zoot Suit Riots, ocorridos por lá nos 1940.
Estas revoltas dos ternos de zoot dos mostram que perseguição e a violência dentro da sociedade americana são coisas muito antigas, sistemáticas e estão ligadas intimamente as questões raciais.
E que, infelizmente, se repetem de tempos em tempos.

Os ternos zoot foram um tipo de vestimenta criado por volta dos anos vinte do século passado.
Construídos de forma a ficar extremamente folgados no corpo, eram exageradamente compridos com paletós indo abaixo do joelho e com ombros largos.
Feitos de material barato, em geral, vestiam as faixas mais pobres da população e logo foram associados às gangues de arruaceiros.
No final dos anos trinta acabou por ganhar um elemento cultural sendo usado quase como um uniforme entre os fãs de jazz, estilo musical de origem negra que era o mais popular entre os jovens da época.
Como toda moda, e por ser de baixo custo, o visual começou a ser adotados por imigrantes, sobretudo, latinos.
Foi o que bastou para que a “antimoda” ganhasse inimigos e passasse a ser vista como algo “anti patriótico”.
Não é preciso explicar os elementos racistas e xenófobos da situação, certo?

No início dos anos 40 do século XX, após a morte de um imigrante latino - provavelmente por conta de brigas entre gangues - os jovens que se vestiam com este tipo de terno passaram a ser perseguidos e agredidos por policiais e marinheiros em Los Angeles.
Estes episódios foram se repetindo de forma a causar revolta entre os agredidos iniciando uma semana de tumultos que se espalharam até Detroit, totalizando 34 mortes e fazendo com que a primeira dama Eleanor Roosevelt declarasse que aquilo era uma revolta racial.
Ela tinha razão...

Esse momento trágico na história dos EUA  acabou retratado de diversas formas dentro da cultura popular norte americana.
Desde de desenhos animados como Tom & Jerry, que explorou o tema no episódio “Cat Zoot” onde Tom se veste com um terno zoot e se comporta de forma deliberadamente marginal. Hoje o desenho é considerado, não sem razão, racista.
Nos quadrinhos Dick Tracy, por exemplo, tem elementos que remetem aos tumultos, além do próprio Tracy se vestir com um terno zoot.
O filme pegou leve na questão, mas referencias ainda podem ser vistas.
Mas foi na música onde impacto foi maior.
A roupa era o equivalente às camisas pretas dos headbangers atuais para os curtidores de jazz.
Cab Calloway, um dos mais populares músicos do jazz americano nos anos 30 e 40 adotou o visual e se tornou o ídolo da juventude zoot misturando seu jazz com música latina,como rumba e o calipso.
Cab foi líder de big bands que incluíram futuros gigantes do jazz como Dizzy Gilespie, Mit Hilton e Ben Webster.

Ainda hoje bandas de swing jazz contemporâneas como Big Bad Voodoo Daddy, os Squirrel Nut Zippers e Cherry Poppin Daddys prestam tributo não só a Cab, mas também à memória dos zoots originais envergando os ternos em suas apresentações.
O Big Bad registrou um grande tributo a Cab gravando um disco só com suas obras: How Big Can You Get, de 2009, incluía o arrasa quarteirão “Minnie, the moocher”, que Cab em pessoa canta no filme The Blues Brothers, de 1980.
Já Cherry Poppin Daddys gravou uma canção chamada “Zoot Suit Riot” em que fala diretamente das agressões feitas pela polícia e marinheiros que deram início aos tumultos.


Como deu para notar, o racismo sempre existiu, sempre gerou tragédias como as que ocorreram em Mineápolis e no Rio de Janeiro, a forma de registrar é que mudou.
E já passou da hora de ser extirpado do pensamento da sociedade dita racional.

Comentários