Closer To Home, 50 anos de uma dos marcos do Grand Funk Railroad

Imagine o cenário: Atlanta Pop Festival, dia 4 de julho de 1969, feriado nacional.
Um astuto empresário consegue para sua banda – sem cachê, claro - uma apresentação no festival sem que eles tenham gravado sequer um single.
A banda teria que abrir os trabalhos e para gente do calibre do Led Zeppelin, Booker T and the MG´s, os já consagrados Creedence Clearwater Revival, Janis Joplin...
Sobem ao palco e simplesmente arrebentam...
Roubam a cena de forma tão espetacular no dia de estreia do festival que, imediatamente ao saírem do palco são contratados para fechar a última das três noites do festival.
Da noite para o dia, o trio formado por Mark Farmer, Don Brewer e Mel Schacher são transformados nos novos heróis da música pesada americana e as gravadoras se acotovelam para lhes oferecer contratos de gravação.
A Capitol Records levou a melhor e apenas três semanas após a matadora apresentação chegava às lojas “Time Machine”, o primeiro single do Grand Funk Railroad.

Obviamente, a imprensa musical da época caiu matando e malhou não só o single, como também On Time, o primeiro long play de forma impiedosa.
O que não impediu de que fosse um sucesso estrondoso de público, que algumas semanas após o lançamento do disco já lotava o Filmore East e pedia aos berros as suas preferidas.
Em outra jogada genial do empresário Terry Knight, após o lançamento do segundo disco - conhecido hoje como Red Album – agendou uma turnê conjunta com o Led Zeppelin, fazendo a abertura dos shows da turma de Plant, Page e companhia.
Em uma das apresentações feitas no estádio de Detroit, a banda tocava sua “Inside Lookin´out” com uma resposta tão intensa por parte da plateia que Peter Grant, manager do Zeppelin teve a sutil ideia de desligar a energia elétrica do palco forçando o Grand Funk a terminar abruptamente sua apresentação.
Amável como ele só, Peter ainda tentou intimidou Terry dizendo aos berros e empurrões que era para retirar do palco sua banda imediatamente.
Terry então foi até o microfone e de forma calma disse aos presentes: “O Led Zeppelin está com medo do Grand Funk Railroad, por isso temos que sair do palco”.
As vaias foram tão fortes e intensas e a situação causou tanto desconforto no público que quando o Zep foi se apresentar, mais da metade do estádio estava vazia.
Como resultado, o Grand Funk foi “demitido” da turnê.

Agora sim, o lançamento do terceiro disco, objeto deste texto...
Em 15 de junho de 1970 chega às lojas Closer to Home, um disco com temas à frente de seu tempo.
A banda começa a escrever sobre problemas ambientais e ecológicos além, claro, do tema quase universal naqueles tempos, a guerra no Vietnã.
O disco é monstruosamente pesado, mas suinga de uma forma que até então era impensável dentro do rock pesado.
As levadas de bateria com tempos estranhos de Brewer e o baixo pulsante e groovado de Schacher fazem a cama perfeita para Farmer pintar e bordar com sua guitarra agressiva e fazer intervenções pontuais com os teclados.
Já na abertura com sua introdução acústica “Sins of a good man, brother” arrepia e o que se segue não é menos impressionante.
“Aimless Lady” tem uma linha de baixo tão pesada que em um som bem equalizado é capaz de fazer as caixas se moverem.
Ainda há a destruidora “Mean Mistreater” com sua linha vocal dramática tem uma letra de protesto em relação ao governo que mandava a molecada morrer no Vietnã enquanto cuidava muito mal dos que voltavam de lá com sérios problemas psicológicos.
Uma das faixas mais curiosas é “Get it Together”, que segue instrumental até que um coro de vozes quase infantis canta o título da canção.
O resultado só não é a melhor faixa do disco porque a faixa final, “I´m Your Captain (Closer to Home) surge como um épico de dez minutos alternando passagens acústicas com a quebradeira natural da banda e terminando com um coda genial e hipnotizante que inclui um lindo arranjo de cordas enquanto Farmer canta de forma angelical a frase “I´m getting close to my home” vinte e duas vezes e sumindo no fade out.
O disco chegou ao sexto lugar na parada Bilboard 200 no ano de seu lançamento ganhando assim a certificação de disco de ouro. Também alcançou o sexto lugar no Canadá e nono na Austrália.

Este disco que no último dia 15 de junho completou cinquenta anos de seu lançamento pode não ser o melhor disco da banda e nem ser o de maior sucesso, mas poucos registros são tão prazerosos de se ouvir quanto este terceiro disco do Grand Funk.
A banda seguiria sendo malhada pela crítica e amada pelo público que esgotou os 55 mil ingressos para um show no Shea Stadium em apenas 72 horas.
Mas aí já é assunto para outro dia.

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