O Papa é Pop - 30 anos de um dos maiores blockbuster do BRrock

No último dia 15 de junho, os Engenheiros do Hawaii comemoraram - ou comemorariam – 30 anos do lançamento do seu disco mais bem sucedido: O Papa é Pop.
Não necessariamente é o melhor disco da banda, mas é o sem dúvida o mais importante.

A simplicidade dos três primeiros discos (Longe Demais das Capitais,1986; A Revolta dos Dândis, 1987 e  Ouça O Que Eu Digo, Não Ouça Ninguém, 1988) iria ficar para trás com a aproximação com o rock progressivo que chegaria ao auge com a gravação do último disco da formação clássica, o GLM de 1992.
E o primeiro passo nessa direção foi dado ainda nas duas inéditas gravadas no estúdio que abriam o disco ao vivo Alívio Imediato de 1989: “Nau à Deriva” e principalmente a faixa título tinham camas de teclados, passagens instrumentais mais intrincadas e mudanças de andamento inéditas até então.
Com o sucesso radiofônico da canção “Alivio Imediato”, a expectativa sobre o próximo disco de inéditas só crescia.
A notícia de que Humberto Gessinger, Carlos Maltz e Augusto Licks preparavam uma cover para uma canção dos Incríveis no disco atiçou a curiosidade do público e quando o disco finalmente chegou às lojas, o sucesso já era uma realidade.

O ponta pé do disco foi com o single “O Exército de Um Homem Só”, canção em que o andamento lembra “Nau à Deriva” e que tocou nas rádios de forma insistente só dando lugar nas primeiras posições das paradas quando “Era um Garoto Que como Eu Amava Os Beatles e Os Rolling Stones” foi lançada.
Houve um período que se a pessoa trocasse de estação quando a música acabasse, o mais provável era ouvir de novo tocando em outra.
Ainda houve tempo e espaço para o "O Papa é Pop" e um quarto single, “Pra Ser Sincero” alcançassem o mesmo nível absurdo de sucesso.
E não foi só...
O disco completo dava outra dimensão às músicas já lançadas e mesmo não sendo um disco conceitual, tudo parecia se encaixar e se completar.
Há muito mais dentro daquela capa aparentemente simples, com um sofá, os três integrantes, uma guitarra e o quadro do Papa João Paulo II tomando chimarrão.
A parte sonora dava continuidade às mudanças com a inclusão do piano elétrico, dos mid pedalboards e a adição de samplers que encorparam o som da banda, criando a ilusão de que havia muito mais gente tocando e não apenas os três.
A produção, pela primeira vez à cargo da própria banda mandou um som limpo para o disco sem tirar a espontaneidade do trio.

A canção de abertura, “O Exército de Um Homem Só” tinha uma parte dois, mais rápida, mais urgente e com a cover dos Incríveis fazendo a ponte entre as duas.
As letras de “Olhos Iguais aos Seus” e “Nunca Mais Poder” tinham poesia simples, mas certeira e faziam do lado A do disco mais acessível.
Já o lado B começava com a faixa título e sua letra cheia de referências reduzindo tudo ao pop e perguntando: “...afinal o que é rock and roll? Os óculos do John ou o olhar do Paul?
A sequência tem dois épicos: a complicada “A Violência Travestida Faz seu Trottoir” que trazia a participação de Patrícia Marx cantando sobre suicídio e a quilométrica “Anoiteceu em Porto Alegre” descrevendo a vida boêmia nas madrugadas portalegrenses unindo a ressaca dos boêmios ao título mundial do Grêmio.
Fechava o disco a canção “Ilusão de Ótica” que tinha versos gravados ao contrário em um efeito estranhíssimo e muito interessante.
A versão em CD ainda tinha “Perfeita Simetria”, canção feita na mesma métrica da faixa título, mas com letra diferente (e romântica) que acabou sendo uma das preferidas dos fãs nos shows.
Estranhamente, a bateria usada nas gravações foi eletrônica, algo que muita gente só descobriu quando leu Infinita Highway, livro de Alexandre Lucchese lançado em 2016.


E ainda havia a mudança visual que a banda começou a ostentar nas apresentações usando guitarras e os contrabaixos que não tinham as mãos (aquela parte onde ficam as tarraxas para afinação) criando uma identidade visual incrivelmente moderna para a banda.
O visual roqueiro clean com cabelos longos de Carlos e Humberto contrastando com a imagem séria e até austera de Augusto Licks vestido de forma elegante com roupas sociais, cabelo impecavelmente cortado e penteado para trás, bem inspirado em Robert Fripp, o lendário guitarrista do King Crimson.

Outras mudanças gigantescas se deram nas vendagens e popularidade da banda.
O Papa é Pop teria venda superior a 400 mil cópias de saída e mais de meio milhão no total garantindo disco duplo de platina, três singles de sucesso nas rádios, shows catárticos e completamente lotados.
E ainda terminaram 1990 sendo eleitos pelos leitores da revista Bizz/Showbizz como a melhor banda de rock do ano.
Isso sem nunca ser um sucesso de crítica, mas quem liga para a crítica?

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