O southtern rock e a bandeira confederada

Nos últimos tempos, inspirados pelos protestos contra o racismo em todo o mundo, vem ocorrendo um movimento no sentido de rever o tratamento de algumas personalidades e obras históricas relacionadas de alguma forma ao escravismo e/ou com traços de racismo em sua biografia.
Estátuas sendo derrubadas, monumentos sendo cobertos ou vandalizados em diversas partes do planeta, sobrando até para estátuas de Cristóvão Colombo.
Esse movimento atinge também obras da cultura pop como livros (aqui no Brasil o caso mais conhecido pede o fim da obrigatoriedade das obras do escritor Monteiro Lobato nas escolas) e até filmes.
Os serviços de streaming, atendendo a pedidos de manifestantes, retiraram de seus catálogos títulos como “E o Vento Levou”, “Histórias Cruzadas” entre outros que retratam períodos de escravidão e segregação racial nos EUA.
Sem considerar o histórico que envolve as obras – “E o Vento Levou”, por exemplo, foi a primeira obra a render um óscar à uma atriz negra na história – ou o período histórico retratados, os “cancelamentos” tem um ar estranho de caça às bruxas.
De forma até surpreendente, o movimento ainda não se debruçou sobre a música, ao menos não com a mesma força.
The Allman Brothers Band
Mas ela não está imune.
Há algum tempo atrás houve uma onda de casos de patrulhamento sobre artistas do chamado Southern Rock, estilo predominantemente americano com bandas e artistas vindas do sul dos EUA, região com histórico de racismo e berço da odiosa KKK.
Grupos como Lynyrd Skynyrd, The Allman Brothers Band, Driven By Truckers e artistas solo como Tom Petty e Kid Rock foram questionados sobre o uso da bandeira dos confederados sulistas, também conhecida como “stars and bars” ou “Dixie”, em algum ponto de suas carreiras tanto em seus shows como em seu merchandising.
A bandeira é um dos símbolos dos mais contestados pelos movimentos pelos direitos civis americanos por ser associada ao racismo
Sem promover um julgamento sobre a correção ou exagero das ações, a Ultimate Classic Rock fez um belo levantamento sobre alguns destes casos.
Alguns mostrando sincero arrependimento e outros dando de ombros às questões ligadas ao tema.

O Lynyrd Skynyrd chegou a usar a bandeira como pano de fundo de suas apresentações durante a década de 70 e foi capa de pelo menos dois de seus lançamentos (Southern by the Grace of God (1988) e Greatest Hits de 2008).
Em 2012 a banda decidiu remover a bandeira de seus shows e de suas peças de merchandising.
Após fãs acusarem a banda de estar virando as costas para suas raízes sulistas, Gary Rossington explicou que a bandeira foi: “sequestrada por pessoas como a KKK e os skinheads afastando-a de sua tradição e da herança dos soldados a que ela representava”.
Gary ainda explicou que não queria que isso parecesse para os fãs que a banda concorda com isso.
Embora pareça que a tomada de decisão tenha vindo muito tarde já que só na turnê de despedida a banda optou por se apresentar com a bandeira nacional americana como pano de fundo e usar a bandeira do estado do Alabama durante seu hit “Sweet Home Alabama”.
Lynyrd Skynyrd
Outro que usou a bandeira, mas por um período relativamente pequeno de tempo, foi Tom Petty, também criado na Flórida.
Tom lançou em 1985 seu disco Southern Accents, que tinha a intenção de ser um disco conceitual sobre o sul do país, mas que acabou não tendo essa faceta ao final da gravação e usou em seus shows, para ilustrar, a bandeira confederada.
Tom diz que o uso foi uma decisão: “completamente estúpida” e que simplesmente deixou de usá-la.
Tom Petty
Outro que mudou de opinião foi Kid Rock que envergava a bandeira dizendo que era: “um símbolo do rock e rebelião do sul”.
Sem explicar sobre a mudança de postura, simplesmente deixou de usar o símbolo, o que foi motivo para que continuasse sendo cobrado e criticado.
Em 2015 declarou a Fox que as pessoas que continuavam a protestar poderiam “beijar sua bunda”.

Dimebag Darrell, do Pantera, morto em dezembro de 2004 costumava tocar em seus shows com a bandeira pintada em seu corpo.
Curiosamente, o vocalista da banda, Phil Anselmo, volta e meia se vê envolvido em polêmicas por fazer declarações e gestos ligados a supremacistas brancos e neo nazistas.
Apesar das desculpas que sempre pede, não consegue se desvencilhar das polemicas e nem parecer sincero.

Indicados ao grammy, os Confederate Railroad não mudaram suas posições mesmo tendo muitos de seus shows cancelados.
Danny Shirley, seu vocalista, informa que tem orgulho da parte do país de onde é e que não vai pedir desculpas por isso.
Também diz que consegue “enxergar a bandeira em separado do racismo”.

Já Warren Haynes, ex guitarrista dos Allman Brothers e atualmente no Gov´t Mule, declarou que não é necessário um símbolo para que você se orgulhe de quem é.
Em uma posição semelhante ao de seu colega de banda, o falecido Gregg Allman, declarou que : “Se as pessoas vão olhar para essa bandeira e pensar nela como algo que representa a escravidão, então que se queime cada uma delas.”
Gov´t Mule
Os Drive By Truckers, de Petter Hood, vão mais além apontando em suas letras muitas contradições sobre a tal “identidade do sul”, o que inclui temas sobre os pontos de vista sobre a bandeira.
“Aqui não há orgulho bobo, não há bandeira” – reflete ele com desdém.
Hood cita os profundos aspectos religiosos do povo do sul e não consegue entender que dado isso, ainda assim podem se unir em torno de um símbolo que representa coisas que dizem quer deixar para trás.
“Foda-se a bandeira” – declarou em entrevista à Rolling Stone.

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