Southern Rock - para muito além das coisas ruins com a tal bandeira

Outro dia aqui mesmo no Musique-se foi abordada a questão do uso da bandeira confederada pelas bandas do southtern rock, símbolo ligado ao racismo norte-americano, (em particular no sul do país durante a guerra civil) que foi abandonada por várias bandas e artistas sulistas.
Hoje o assunto é mais ameno e muito mais agradável.
Algumas indicações de ótimos discos do estilo e – de preferência, de artistas que reconsideraram o símbolo em suas obras e merchandising.

O southern rock prima pelo uso melódico das guitarras com muitos riffs e solos, as letras em geral trazem assuntos comuns ao povo da região e suas tradições.
Curiosamente, o visual das bandas chega a ser até parecido entre elas, barbudos, cabeludos com um visual meio country, meio motoqueiro...
O som em si também não diferiria muito se não fossem as misturas...
O Lynyrd Skynyrd tem um som mais cru e puro, enquanto, por exemplo, The Allman Brothers Band envereda com seu som pelo blues com pitadas generosas de jazz em jams por vezes gigantescas.
Já o Black Oak Arkansas tem toques de funk, enquanto o Gov´t Mule chegou a gravar discos com doses cavalares de reggae.
As indicações então...

Molly Hatchet, Molly Hatchet (1978)
Molly Hatchet
A banda parecia que ia preencher o espaço deixado pelo Lynyrd Skynyrd, tanto na parte visual como musical após o terrível acidente de avião que levou parte da banda.
As três (!) guitarras altas, quase o mesmo visual, mas tinha algo de diferente: em vez de colar o som no country rock, o Molly de Danny Joe Brown e Dave Hlubeck fazia um tipo de boogie blues mais acelerado.
E a capa, bom... Quem olhar para a capa e não ouvir o disco e nem conhecer a banda, vai ter a impressão de que se trata de algo como Saxon, Manowar ou coisa assim...
Em vez de um vaqueiro sulista, tem um tipo de cavaleiro saxão saído das crônicas do Rei Arthur.
Mas o disco é bom e tem até uma corajosa cover dos Allman Brothers (não é para qualquer um tocar uma música dos caras): "Dreams I'll Never See"
O segundo disco, Flirtin With Disaster (1979) também é bem bom e vale muito a pena, embora a capa tenha uma espécie de Thor e não dê a mínima pista de que há southern rock lá dentro.


Brothers and Sisters, The Allman Brothers Band (1973)
The Allman Brothers Band
Aqui a banda dos irmãos Allman já não contavam com Duanne Allman, guitarrista sensacional e compositor idem falecido em um acidente de moto um ano antes.
O irmão que sobrou, Gregg, caprichou nos vocais e a banda tocando e compondo como nunca fez um de seus discos mais acessíveis e encantadores.
“Ramblin Man” tem um dos solos mais bacanas da banda e um acento country irresistível.
É bem difícil ficar imune ao ritmo de “Southbound” ou não sorrir com a alegria contagiante da instrumental “Jessica”, que por muitos anos foi prefixo do programa britânico  de automóveis Top Gear, da BBC.
Foi nesse disco que Dickey Betts assumiu o protagonismo ao lado de Gregg Allman, e ajudou a moldar o som da banda para os próximos anos.
Todos os discos da banda são ótimos, mas destaque para Each the Peach com os últimos solos de Duanne, incluindo o maravilhoso “Blue Sky”.
Curiosidade? A banda tinha duas baterias.

A banda dos Irmãos Allman rendeu frutos e dois deles são realmente imperdíveis.
O primeiro é o Gov´t Mule, do guitarrista Warren Waynes, que tocou nas últimas turnês e discos do The Allman Brothers.
Gov´t Mule
Longe de fazer um xerox, Warren leva seu Gov´t Mule junto com Allen Woody e se permite misturar o southtern rock com pop, com funk e até com reggae.
Dose (1998) seu segundo disco porém, é quase uma profissão de fé ao som do sul e ajudou a afirmar a banda como uma das melhores do movimento nos anos 90.
A banda também solta discos ao vivo interessantíssimos com releituras de Pink Floyd, Rolling Stones e até um disco de dub.
Se interessar, um dos seus discos mais populares é High and Mighty, de 2006 com os hits (isso mesmo... hits) “So Weak, So Strong”, “Streamline Woman”, “Brighter Days”, “Brand a New Angel” e a faixa título.
Imperdível.


A outra é uma cria literal dos Allman Brothers.
Formada por Duanne Betts e Devon Allman, filhos de Dickey Betts e Gregg Allman, o The Allman Betts Band lançou Donw To The River (2019), muito mais que um tributo aos pais, o disco tem uma identidade própria e um frescor maravilhoso.
The Allman Betts Band
Além de contar com o Berry Oakley Jr, também filho de um importante membro da banda dos pais, o grupo tem o guitarrista Johnny Stachela, um geniozinho da mesma estirpe do falecido Duanne Allman.
A banda já anunciou disco novo para agosto deste ano...
Destaques do disco: “Melodies are Melodies”, “Try”, a jam “Autunm Breeze” e a linda “Shinnin”.

Obviamente, não poderia deixar de ter numa lista sobre sothtern rock o Lynyrd Skynyrd.
Lynyrd Skynyrd
Second Helping (1974), segundo disco dos caras traz aquele que talvez seja seu maior hit: “Sweet Home Alabama”, mas não se resume aí.
“The Ballad of Curts Loew”, “Swamp Music”, “Call Me The Breeze” também são fantásticas.
E claro, o primeiro disco dos caras com as imortais “Simple Man” e o equivalente ao “toca Raul” gringo “Free Bird”.
Assim como os Allman Brothers, é difícil apontar um disco menos inspirado do Skynyrd, mas se quer realmente o supra sumo da banda, melhor pegar os álbuns gravados até o acidente de avião que vitimou o cantor Ronnie Van Zandt e o guitarrista Steve Gaines além de parte da equipe da banda que estava no voo.
O último disco lançado por essa formação é Street Survivors (1977).
Em 1978 a gravadora colocou no mercado um disco da banda ainda com os vocais de Ronnie e a guitarra de Gaines chamado: First and Last e este trazia uma das canções mais bonitas e comoventes da banda: “Comin´Home”.


Se tiver interesse em ir mais a fundo, também pode procurar por discos do Black Oak Arkansas como High on the Hog, de 1973 ou Laid Back, também de 1973 que é um álbum solo de Gregg Allman.
Strikes, disco do Blackfoot de 1979, e todos os ótimos discos dos Black Crowes, Blackberry Smoke, Driven By Truckers e claro, Tom Petty.

Satisfação garantida.

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