Mas, isso é cover! - As Geniais

Sérgio Sampaio é gênio.
Essa afirmação não tem contestação.
O que se contesta é o porque de Sérgio nunca ter tido o devido reconhecimento enquanto vivo já que tem uma obra poética e musicalmente linda.
Infelizmente, sempre que se fala no capixaba conterrâneo do Roberto Carlos, sempre se joga na conversa a canção “Quero Botar Meu Bloco Na Rua” de 1972 que ele defendeu no IV FIC (Festival Internacional da Canção) - o mais policiado, violento, censurado e reprimido de todos os festivais - e que lançada em compacto neste mesmo ano vendeu mais de 500mil cópias sendo considerada a grande canção do carnaval e levando o Troféu Imprensa de revelação de 1972.
A canção também dá nome ao seu primeiro LP lançado no ano seguinte pela Philips e produzido por ninguém menos que Raul Seixas (produzido, entendeu, Ed Motta cachaceiro?) e este é seu maior sucesso comercial.


Há uma canção neste disco chamada “D. Maria de Lourdes” que é tão repleta de referencias e citações que é difícil não prestar atenção e não ficar intrigado.
Escondida no disco (no vinil é a terceira faixa do lado B e no CD é a nona faixa) Sérgio manda um recado à sua mãe.
Na letra ele trata de tranquilizá-la dizendo que estava tudo bem apesar de estar na mira dos militares então no poder por conta da forte letra da canção defendida por ele no festival.
“Eu estou no bar do Auzílio ou na igreja /E onde quer que eu esteja, eu não estou” – diz a letra.
Também aproveita para contestar o regime falando sobre os desaparecidos/mortos (“Quem morreu, quem teve medo, quem ficou”).
Sampaio também paga tributo na letra à ídolos como Paulinho da Viola quando canta: “O auditório aplaudiu e eu cantei novamente, fique de olho na vida o sinal vai abrir” em referência a canção “Sinal Fechado”, canção vencedora do Festival da Record de 1979.
E também à Jards Macalé e Carlos Capinam quando referenda “Gothan City” : “O auditório aplaudiu, mas cuidado com a porta da frente” que foi apresentada no mesmo festival.
Ouça a música, leia a letra e identifique outras referências e citações que Sérgio espertamente colocou para alfinetar os milicos.

E o cover fica por conta do neto de Gilberto Gil: Fran Gil, que gravou uma versão linda e bem fiel da canção juntamente com Chico Chico, filho da Cassia Eller no disco Onde, de 2020 onde, além dessa, também há versões para “Árvore” (Edson Gomes), “Veleiro Azul” (Luiz Melodia), “Procissão” (Gilberto Gil), “Isso Não Vai Ficar Assim” (Itamar Assumpção)...
Vale conferir. 



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