Ao Vivo - Janete Saiu Para Beber e a mágica pernambucana de criar música

A cultura pernambucana é repleta de nomes geniais em todas as áreas, mas na música parece que há algo no ar daquele estado, nas águas dos rios que se unem no Recife para formar o Atlântico que deixa a coisa ainda mais especial.
De lá vem desde Luiz Gonzaga até Dani Carmesim, passando pelas gerações anteriores capitaneadas por Alceu Valença e Geraldo Azevedo entre outros; a cena do movimento Manguebit, última grande revolução musical brasileira liderada por Chico Science e sua Nação Zumbi lado a lado com o Mundo Livre S.A. de Fred 04 entre outros.
Um destaque do coração para a breve carreira do grupo Mestre Ambrósio que escreveu um dos capítulos mais legais dos discos no país (Fuá Na Casa de Cabral (1998), que já tem uma resenha aqui...) e que nos legou o genial Siba Veloso.
São tantos nomes mais que a gente vai parar de listar por aqui para não ser injusto, mas o intuito desta prolongada introdução é falar sobre um nome relativamente novo vindo de Pernambuco, mais precisamente, do paraíso terrestre de Cabo de Santo Agostinho: Janete Saiu Para Beber. 


Na ativa desde 2010, o grupo faz uma alquimia sonora juntando punk, hip hop, garage rock e uma infinidade de ritmos e sons regionais que vão do frevo ao coco de roda passando pelo caboclinho, cavalo marinho e as cirandas e claro, maracatu.
A mistura resulta em um som único, que tem sim influências do manguebit (e como não ter?), mas consegue soar com frescor e bem original.
Formada por César Braga no vocal, Kin Noise na guitarra, Lennon Carneiro no baixo, Niel Melo na bateria, Eudes Junior e Erivaldo Romão na percussão.
O JSPB tem dois singles lançados no ano passado (“Lampião Falou” e “Você é o Contrário do que Você Prega”) trazendo temas pessoais e críticas sociais em suas letras.
E isso incomodou...
No carnaval de 2020 durante um show no bairro do Recife Antigo, ao tocar o clássico de Chico Science & Nação Zumbi, “Banditismo Por Uma Questão de Classe” de 1995, teve seu set interrompido pela polícia militar em uma clara ação de censura.
O ato não passou em branco e manifestações de apoio e solidariedade surgiram, inclusive do cantor e compositor paraibano Chico César que adaptou a frase do rapper Djonga e escreveu em suas contas nas redes sociais: “Fogo nos fascistas!”.
foto: Hugo Muniz

Em 2022, a banda foi convidada para se apresentar no programa Estúdio Show Livre e com apoio da secretaria de cultura de Cabo de Santo Agostinho, fizeram a apresentação que se transformou no disco Ao Vivo (capa lá em cima) que agora é lançado nas plataformas de streaming.
Com apenas uma das músicas lançadas em single presente no disco (“Lampião Falou”), a banda surge com nove novas canções com a mesma assinatura artística que já caracteriza o trabalho do JSPB.
Destaques para a sequência inicial com “Benedito” e “Malungada”; a pesadona “Alma de Gato”; “Tamarineira A Montreal” que soa na abertura como uma surf music do sertão e “Dia de Miséria Real”, um baião elétrico e psicodélico com letra carregada de questionamentos: “Daqui pra lá o que eu quero deixar quando eu passar?/De lá pra cá o que foi que eu deixei onde eu passei?”
O disco está disponível nas principais plataformas e o vídeo no youtube do Show Livre.
Vale muito a pena prestar atenção ao Janete Saiu Para Beber.

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