Cruel Country - Wilco abraça novamente o country para descrever os EUA

Não...
Um disco de country music não é novidade para o Wilco.
É preciso lembrar que o aclamado álbum de estreia, AM (1995) já trazia os ecos no que se convencionou chamar de alt country, ou, country alternativo.
Mas a coisa foi mais depurada no segundo disco que, mesmo tão bom quanto o primeiro, não teve a mesma exposição e nem ganhou tantos corações. Being There (1996) tem mais country e menos alternativo e também é duplo.

No que se assemelha muito a este novo Cruel Country.


São vinte e uma músicas em que Jeff Tweed, Nels Cline, John Stirratt, Glenn Kotche, Michael Jorgensen e Pat Sansone desfilam melodias assobiáveis, instrumentais simples e diretos para falar de um país que é grande, belo, mas injusto: “Eu amo meu país como um garotinho/vermelho, branco e azul/ Eu amo meu país cruel e estúpido” – canta Tweed a certa altura.

O disco foi gravado praticamente ao vivo com os seis tocando no estúdio (o vídeo do primeiro single, "Falling Apart (Right Now)" dá uma mostra generosa de como foi) como não faziam desde o belíssimo e subestimado Sky Blue Sky (2008) e tem instrumentação basicamente acústica.
Lindos violões comandando as canções que são enfeitadas por pianos que soam por vezes melancólicos outras animados, muito steel guitar, alguns efeitos de teclados que não tem como intenção serem protagonistas, mas coadjuvantes que embelezam.
E várias intervenções elegantes de guitarras como em "Many Worlds" que encerra seus sete minutos de duração com um solo celestial.
A voz de Jeff parece triste em algumas canções, mas cá entre nós, já soava assim mesmo nas canções mais pesadas e rápidas da banda.
E creia, isto também confere beleza à obra.
Na abertura do disco, “I Am My Mother” sua voz lembra a de lembra Bob Dylan em Nashiville Skyline (1969), com o andamento de uma valsa country, é um cartão de visitas lindo sobre os sonhos e esperanças de um imigrante recém chegado.
Já em “Hints”, apresenta uma nação dividida e pede que todos se mantenham de mãos dadas, mas observa que não há como passar pano quando o outro lado “prefere matar do que se comprometer”.

Mas não espere que Jeff Tweed ou qualquer um na banda tenha ou dê a receita de como melhorar as coisas. Apesar de compilar sentimentos por vezes contraditórios sobre os EUA e muitas observações que podem soar enigmáticas aos ouvidos de um não estadunidense, em uma das canções mais bonitas do disco, “All Across The World”, ele entrega: “Eu mal suporto saber o que é verdade / O que uma música vai fazer?”

Pode fazer muito.
Pode por exemplo, confortar o ouvinte como em “Bird Without a Tail/Base of my Skull” onde as guitarras de Nels Cline e Tweed entram em comunhão e terminam em uma simbiose magnifica. Resumindo, deixa o coração quentinho.

Enfim, é um disco honesto, bonito, delicado, sensível, mas se disserem que é o melhor disco deles, não acredite. Não é e nem precisava ser... 
O disco chega hoje aos streamings, cd e, como gostam seus fãs, em vinil e mesmo sendo um álbum duplo, não é cansativo.
Não se sente sua duração de quase oitenta minutos, pelo contrário, quem realmente prestar atenção, captar suas nuances, detalhes, texturas, vai lamentar o fim do álbum. 
Provavelmente vai por para tocar de novo.
E de novo...

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