Pequena Minoria de Vândalos - Criativo e inquieto, o primeiro disco solo de Luiz Thunderbird

Luiz Thunderbird é antes um sobrevivente.
Sobreviveu a odontologia para se tornar músico.  Que me desculpem os dentistas.
Sobreviveu a instabilidade do mercado musical fonográfico para se tornar comunicador na MTV (que prestava) e chamar a atenção da toda poderosa rede Globo.
Sobreviveu a máquina de moer gente das tevês abertas escravas dos números do ibope para voltar à MTV.
Sobreviveu ao fim da MTV para se tornar uma das melhores opções dentro do universo que é o youtube com seu Music Thunder Vision.
E tudo isso sem deixar de produzir música, sobrevivendo ao fim da era das gravadoras para lançar com sua banda discos independentes com a mesma ou até mais qualidade na gravação e produção.
Então, sabendo disso tudo, como não ficar ao menos curioso ao saber que – finalmente – Thunderbird vai lançar um disco solo?

Eu fiquei. E não foi pouco...
Ao longo de pelo menos dois anos acompanhando seu canal do youtube, as redes sociais e anti sociais, colhendo pequenas infos aqui e ali sobre a produção e gravações do disco.
Sobre as parcerias que anunciava vez por outra: Guilhermoso Wild, Guilherme Held, Juliana R. (do projeto Tarântulas e Tarantinos do qual Luiz também é parte integrante) e Odair José, que resgatado do rótulo (bobo) de “música brega”, teve disco produzido por Zeca Baleiro para finalmente ganhar respeito e o lugar que lhe é devido na música brasileira.
A curiosidade aumentou com o lançamento do clipe de “A Obra” (John Ulhoa), canção do primeiro disco dos mineiros do Sexo Explícito (no segundo disco Sexplicito) banda com o poeta Rubs Troll, que um dia, quando lhe disse que eu tinha um dos discos de sua subestimada e seminal banda autografado por ele, respondeu: “-Ah! Então é você?”.
Claro que com artistas criativos e inquietos como Thunderbird, nada pode ser dito como “definitivo”, mas o single/clipe criava um bom presságio: baixo estalando à frente, conduzindo junto com a bateria para que as guitarras criassem texturas e climas. Era realmente animador.

Eis que – dois anos após - chega às mãos (e aos ouvidos)
Pequena Minoria de Vândalos, lançado pelo selo Freak e assim como no disco dos fundadores do Pato Fu, “A Obra” tem a incumbência de abrir o disco mas está longe de o definir seu clima, seu andamento...

Já na segunda faixa, “Insuportável”, parceria com Rodrigo Carneiro dos Mickey Junkies, o clima muda para algo como se o New Order soasse mais “orgânico”, porém igualmente dançante. Ou se os Talking Heads fossem brasileiros.
Quando cê acha que entendeu, um rockão estoura nas caixas de som: “Eu Vou de Bicicleta” de Odair José que também participa dos vocais e tem o instrumental fornecido por Arthur Romio na guitarra, Caio Mancini na bateria e os teclados de Pedro Pelotas, ex Cachorro Grande.
Aqui é Luiz Thunderbird encarando o passado e chamando o futuro pra dançar, ou melhor, andar de bicicleta. Uma de suas atividades/esportes preferidos desde a infância: “-Eu quero ser um exemplo de meta/eu quero ter um corpo de atleta/agora que estou limpo eu vou de bicicleta”.
Aí é hora de desistir de enquadrar o disco e curtir a viagem.
Curtir, por exemplo, a participação de uma das melhores bandas da cena psicodélica brasileira, Bike, na longa, surpreendente e climática faixa “Rumo”, séria candidata a ser uma das melhores músicas do ano: “Reconhece o rumo e vai, sem peso nos ombros...”

Outros destaques são a instrumental “Serra do Mar”, composição inspirada em uma das suas viagens de bike durante a pandemia e na qual grava e toca tudo sozinho; a versão de “Champs Élysées” de Joe Dassin que virou “Rio Tietê” e soa sarcástica e acida mesmo com a melodia doce e alegre e o punk rock cru de “Protesto”, que ganhou um videoclipe dirigido pelo próprio Thunderbird e por Felipe Pagani com ilustrações do artista Camilo Solano.

Thunder, Rickenbacker; Fender Jaguar Bass e outro Rickenbaker
                                                      em foto de Cauê Moreno

Pequena Minoria de Vândalos tem em sua base os músicos Gustavo Boni da Patife Band no baixo, Caio Lopes que toca com ninguém menos que Gal Costa na bateria, Rafael “Chicão” Montorfano nos teclados e Daniel Brita na guitarra, trombone e trompete. Parceiros ideais pra que Thunder experimentasse guitarra, cazoo, percussão e o que mais pintasse pra criar efeitos.
A finalização ficou por conta de Lampadinha, produtor experiente que já trabalhou com CPM22, Titãs, CBJ e com os Devotos de NSA.
O disco estrá disponível em todas as plataformas de streaming (Linktree PMDV) e esperamos que saia também em cópia física para assim podermos dizer que Thunderbird também sobreviveu ao fim popularidade das mídias físicas. 

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