Klaus Voormann e a capa de Revolver: "O cabelo era o elemento agregador"

No próximo dia 28 de outubro chega às lojas ao redor do mundo a caixa remixada e expandida do álbum Revolver, lançado pelos Beatles em 1966.
Muito já se falou da revolução musical detonada pelas músicas deste disco.
Das experimentações inovadoras de “Tomorrow Never Knows” à doçura de “Here, There and Everywehere”, mas pouco se falou da embalagem.
Não tão festejada quanto a – genial – de Sgt. Peppers, a capa de Revolver também é um marco na história a cultura pop mundial.
E ela tem um pai, o artista alemão Klaus Voormann.
Klaus era o que hoje em dia chamamos de “multimídia”, além de fotografo e artista plástico, também é músico (um bom baixista, diga-se) e tocou em discos importantes de Lennon, McCartney e Ringo, além claro, de lançar seus próprios álbuns solo.
Voormann conheceu os Beatles ainda em Hamburgo em 1960, chegando a morar junto com Harrison e Ringo no apartamento da banda quando John e Paul se mudaram.
O convite para produzir a capa do disco de 1966 partiu de Lennon com um telefonema onde o chamou para ouvir as novas músicas.
O alemão diz que não se surpreendeu com o convite, mas com as músicas que ouviu sim.
“-Ainda não estavam terminadas, mas foi incrível, simplesmente incrível. Tantas músicas ótimas", diz Voormann. "-E então veio 'Tomorrow Never Knows' (...). Eu estava sentado lá ouvindo as faixas, e de repente aqueles pássaros esvoaçando e fitas aceleradas, pratos invertidos, o solo de guitarra, todo esse estrondo estava acontecendo. Imediatamente fui capturado por isso e achei maravilhoso. Mas quando terminou eu pensei, 'Oh meu Deus, o que os fãs vão dizer?”.

Klaus sacou que a responsabilidade era enorme: contentar os fãs que vinham de canções simples como “She Loves You” ou “I Wanna Hold Your Hand” e ao mesmo tempo ilustrar aquele tsunami de criatividade que vinha pela frente com canções que eram muito, mas muito diferentes do que há havia sido feito até então e isso merecia uma capa que fosse além da mera foto colorida que era o padrão. Tinha de ser tão revolucionária quanto a música contida.
A solução a que chegou foi fazer uma colagem para que a diversidade das imagens refletisse o conteúdo caleidoscópico do disco.
Então, além do material que já tinha em mãos, solicitou à banda que enviasse a ele fotos pessoais de seus arquivos particulares de onde fez suas escolhas.
Ainda que pareça apenas uma coleção aleatória de imagens em branco e preto, a capa de Revolver tem um agregador que a unifica: o cabelo dos Beatles.
É um dos únicos elementos que se tocam em toda a imagem e Voormann explica que: "-É muito difícil para as pessoas hoje em dia imaginar o quão importante e sensacional eram aqueles cortes de cabelo.”
Sim, um dos primeiros sintomas de que os quatro de Liverpool estavam ganhando o mundo foi a profusão de imitadores de seu corte de cabelo “cogumelo” e Voormann identificou e usou isso de forma brilhante para mostrar que, mesmo com peças como “Eleanor Rigby” e “Tomorrow Never Knows”, ainda eram os mesmos caras.

Klaus conta que o empresário da banda, Brian Epstein, chorou ao ver a capa.
Segundo o artista, Epstein estava preocupado que os antigos fãs não aceitassem as novidades e ficou muito feliz ao ver que a capa era uma ponte: “-Você construiu a ponte para essa nova música” – disse.
Voormann ainda é amigo de Paul McCartney, que sempre que vai tocar na Alemanha, onde o artista reside, entra em contato. "-Normalmente eu não me esforço, e não sou um daqueles caras que incomodam outras pessoas. Talvez essa seja uma das razões pelas quais ainda estamos em contato, porque na maioria das vezes eu o deixo em paz."
Além de Revolver, Klaus ainda é o responsável pela capa da coleção Anthology e também de capas para os Bee Gees e Harry Nilson.

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