Naissius inaugura o garage folk com ótimo Ballet Para Cegos

Temas delicados como a atual situação politico social brasileira que cada vez mais se mistura – perigosamente – com questões religiosas já não são novidades no trabalho de Naissius, projeto do músico e compositor Vinicius Lepore, nascido em Jundiaí, interior de São Paulo.
Na ativa desde 2007, Vinicius foi integrante do Limousine Drivers com quem lançou três eps entre 2009 e 2011. 
Após um tempo trabalhando em diversas frentes sempre ligadas à música - desde a critica até assessoria de imprensa - Vinicius grava e lança em 2015 seu primeiro disco sob o nome de Naissius, Síndrome do Pânico com produção Rafael Bertazi.
O disco traz uma série de experimentações em pouco mais de trinta minutos e conta com um ecletismo refrescante que vai do peso das guitarras ao forró passando pelo samba rock misturando violões, samplers criando uma visão muito pessoal da MPB.
O projeto Naissius ainda conta com outro disco cheio, Tanto Ódio lançado em 2018 e produzido por Luiz Tissot.
O disco tem um pé no post punk e suas letras foram comparadas pela Rolling Stone as de Leonard Cohen, convenhamos, um puta dum elogio.
Em 2020 o single “Se Você Passar Por Lá” parecia apontar para uma nova direção com uma música mais alegre e letra romântica (“conta a ela que minha casa é legal que tem três gatos, vinho e um violão/e que talvez não a convide a conhecer pois tenho medo que ela diga não.).
Mas aí veio a pandemia e com a paralização da vida social por um tempo, o músico começou a produzir o material para o que veio a ser o disco Ballet Para Cegos que chega agora às plataformas e traz uma sonoridade mais homogênea com guitarra, baixo e bateria revivendo a estética do garage punk, mas ainda embebida no folk via melodias intensas e refinadas.

“-É uma espécie de retorno às raízes.” – comenta Vinicius, e é mesmo.
O disco soa como um álbum de banda, daqueles que é possível imaginar o grupo no estúdio trocando de instrumentos para começar a próxima faixa.
Os violões da primeira faixa, “Fé”, fazem companhia as guitarras mais esporrentas e altas de “Pressa”, um minuto e nove segundos de urgência sonora.
Belas baladas como “Muros” convivem em harmonia com ótimos rocks tipo “Piano” (“...eu não sei tocar piano, você também não.”) ou “Gritos Plenos” e deixam o ambiente musical arejado até para apontar o dedo na cara de gente hipócrita na densa “O Amor Me Basta”.
O disco ainda tem espaços até para um pouco de tristeza. “Santo Expedito”, canção que fecha o álbum é até dolorida de triste, mas ainda assim mantém a qualidade lá no alto.
Um aparte pessoal, se o disco incluísse e terminasse com o single anterior, “Se Você Passar Por Lá”, seria perfeito.
foto: Jo Paiva
Acompanhado de Rafael Charnet nas guitarras, Éder Chapolla na bateria e o contrabaixo de Luiz Masi, Ballet Para Cegos foi gravado no estúdio Kasulo Music Lab e a produção foi dividida entre Naissius e Thiago Lecussan.
Em resumo, Ballet Para Cegos é um grande disco e merece seu clic e uma audição atenta.
Bora?

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