Quando o Queen lançou em 1989 o álbum The Miracle, Freddie
e a banda já sabiam que o tempo era escasso. (Necessidade Básica 22/05)
Doente, Mercury queria trabalhar o máximo, gravar tudo que pudesse antes que sua
condição ficasse insustentável e viesse a público.
Consciente, o vocalista propôs – e a banda toda aceitou – que por uma questão
de divisão de royalts, todas as canções dalí em diante teriam a assinatura dos
quatro, não importando quem tivesse sido o compositor.
Aquilo também mostraria que, diferente dos boatos que circulavam, a banda
estava unida e eram, antes de mais nada, amigos que trabalhavam juntos.
Isso não estava longe da verdade: Freddie e John Deacon eram muito próximos tanto
que o baixista se aposentou após a morte do amigo dizendo não ver sentido em
continuar sem ele. Os dois já contavam com canções em parceria nos últimos
discos. E a doença do cantor - considerada uma epidemia e quase uma sentença de
morte naqueles tempos - ajudou sim a uni-los como só no princípio do grupo
havia sido.
The Miracle foi o primeiro dos três discos gravados nesse
tour de force à que Freddie Mercury se submeteu corajosamente. Os outros dois,
Innuendo, de 1991 ainda foi lançado com o cantor vivo e Made In Heaven de 1995
trazem as últimas gravações e fecham o ciclo de uma das maiores bandas de rock,
ícones pop da história.
Vez por outra, os remanescentes da banda lançam “gravações inéditas” que eles dizem ter “encontrado” perdidas em fitas das sessões de gravação.
Pequenas colagens feitas com sobras de estúdio, trechos de voz que ganham nova roupagem instrumental e faixas registradas que ficaram sem uso.
Estas picaretagens aparecem em discos como a coletânea Forever (2014) com algumas faixas gravadas durante as sessões de gravação com Michael Jackson e mesmo no disco Made In Heaven, que compila as quatro últimas gravações de Mercury juntamente com músicas de sua carreira solo e de discos de outros integrantes da banda com música fornecida por Brian e Roger.
A última, uma faixa que Freddie já havia descartado chamada “Face It Alone” não passa de uma colagem feita pelos engenheiros de som da banda em que parece que a velocidade da voz foi alterada para encaixar na rarefeita colagem instrumental saiu das sessões de gravação de The Miracle e já era conhecida dos fãs sendo facilmente encontrada no youtube e em bootlegs diversos.
Mas nem tudo é horrível como parece, a monstruosidade traz ao menos uma boa notícia e não, não é o fim dessa prática miserável por parte da banda, mas a chegada de um boxset luxuoso que esmiuça e – esperamos – esvazia o cofre das gravações do disco de 1989: The Miracle: Collector's Edition.
O disco terá edições em vinil, k7 e CD remasterizadas
contendo o disco original remixado e um recorte com as sessões de gravação
que recolocam a faixa “Too Much Love Will Kill You”, que faria parte do disco
original no track list - entre “I Want It All” e "The Invisible Man” - e capa
gatefold como era o projeto original.
Mas o ouro está no boxset, nos mesmos moldes do feito para o aniversário de
quarenta anos do News of The World em 2017.
Serão oito discos incluindo o original remasterizado por Bob Ludwig, cinco cd´s,
que trazem as instrumentais, backing tracks, os singles e seus b-sides
originais e sessões de gravação que incluem raridades como “Dog With a Bone”, “You
Know You Belong To Me”, “I Guess We’re Falling Out”, “Water” e a horrenda “Face
It Alone”, mais dvd e blueray com os clipes do disco, imagens dos making off e
entrevistas da época. E claro, muito material gráfico.
Muito desse conteúdo são de primeiras tomadas das faixas, o que quer dizer que
há versões mais orgânicas de faixas como “Party” e “Khashoggi's Ship” soando
muito mais rock do que o que apareceu no disco, além de conversas descontraídas
e piadas trocadas pelos integrantes da banda durante o trabalho.
O caixotão estará disponível em 18 de novembro, mas já pode ser adquirido em
pré venda na loja oficial do Queen na internet (Queen Online), mas se tiver a
intenção de comprar, melhor correr, algumas versões já se encontram sold out e
como sempre falamos, por aqui só vai chegar via importadora custando, provavelmente
o dobro.
Ou, claro, se contentar com as versões paupérrimas que costumam ser lançadas
por aqui com alguns recortes em dois cds.
Enfim, primeiro produto realmente bom e relevante saído do Queen sob a administração
May/Taylor desde a caixa de aniversário do disco do robô.
Amém.
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