Em O Disco, a Banda Del Rey paga tributo à gigantes da Jovem Guarda

Conheci a Banda Del Rey ainda nos tempos da MTV, quando o M do nome da emissora ainda significava Música.
Eram vídeos com o então VJ China cantando canções do Roberto Carlos em arranjos modernizados de vibe roqueira, o que para um moleque era a melhor forma de se introduzir no universo musical do Rei.
Os tempos eram outros e não havia a internet como temos hoje para maiores pesquisas, procurar músicas ou discos e a empolgação com aquilo tudo deu uma esfriada.
Até que com a chegada no twiter (na verdade alguns anos depois) encontrei o perfil do China (@chinaina) e lhe mandei uma pergunta: “E a Del Rey? Onde acho os discos?”.
Fiquei surpresão quando de maneira muito simpática o cara respondeu: “-Não tem! São só shows mesmo, mas quem sabe?” – só faltou o “minha joia” na resposta.
Corte rápido para 2023 e o que pinga no e-mail?
Sim! O Disco (2023, Pedra Onze/Sony Music).


"Nunca tivemos a intenção de fazer um álbum, a diversão era tocar essas músicas ao vivo para embalar os bailes”. – disse o vocalista em entrevista e completou - "Resolvemos gravar essas canções para marcar um tempo, para deixar um registro da Banda para a posteridade".
Quando diz: “resolvemos”, China está se referindo à banda que forma o Del Rey que são nada mais, nada menos que o Mombojó: Vicente Machado (bateria), Chiquitito Corazon (teclado), Felipe S (guitarra), O Príncipe (guitarra) e mais o baixista convidado Estevan Sinkovitz que atuou também na produção do álbum.
crédito: divulgação

Lançado sintomaticamente em data comemorativa de 57 anos da ida ao ar do primeiro programa da série Jovem Guarda (22 de agosto de 1966) apresentada por Roberto Carlos ao lado de Erasmo Carlos e Wanderléa, o disco paga tributo não apenas ao Rei, Tremendão e Ternurinha, mas à grandes compositores da música brasileira como Getúlio Cortes (“Quase Fui Lhe Procurar” e “Negro Gato”); Tim Maia ("Não Vou Ficar"); Renato Barros (“Você Não Serve Pra Mim” e “Não Há Dinheiro Que Pague”); Paulo César Barros (“Nada Vai Me Convencer”) entre outros.
Com arranjos não muito diferentes dos originais, as canções ainda assim tem impressa a pegada original e estilosa de China e o Mombojó.
Aliás, China está cantando muito!
Logo na abertura, uma suingueira invade os autofalantes com um baixo musculoso e dançante anuncia “Ilegal, Imoral ou Engorda”, única canção original da dupla Roberto e Erasmo, embora todas as outras tenham sido gravadas por um ou pelo outro em algum momento de suas carreiras.
Alguns grandes destaques do álbum é a balada linda e dolorida “Quase Fui Lhe Procurar” com uns "chala la la" geniais; o skazinho good vibes de “Do Outro Lado da Cidade” da compositora Helena dos Santos onde  um órgão bacanudo remete e homenageia Lafayete Coelho, organista icônico do movimento e a baladaça que fecha o disco “Se Eu Pudesse Voltar No Tempo” de Luiz Ismail e Pedro Paulo.
O Disco está disponível em todas as plataformas de streaming e a capa é uma sacada genial lembrando as embalagens de muitos dos compactos da época em que havia apenas um buraco no meio para apresentar o selo do disco e suas informações sem fotos ou o nome do artista estampados.
Valeu à espera de pouco mais de dezoito anos, a bolachinha é das coisas mais legais feitas com as canções da Jovem Guarda desde sempre e merecia muito uma edição em mídia física, principalmente em vinil preto como era na época e como deveria sempre ser.
E que venham outros!


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