Inteligência Artificial: a tênue linha entre arte e picaretagem

O uso cada vez mais frequente da chamada “inteligência artificial” no mundo das artes gera, ou deveria gerar, uma discussão mais séria sobre o assunto.
Óbvio que nenhum setor da vida humana está – ou estará – livre do uso de novas tecnologias (para o bem e para o mal) nos próximos anos.
A coisa pode tanto ser boa se usada em áreas como a saúde, como pode ser um desastre completo se usada nos meios de produção ou serviços em que acabem excluindo a participação humana no processo.
A automação, como é chamada, é parte mais vil do capitalismo e a I.A é a ferramenta final para a sua implementação total... Porém este é um outro tópico que é – ou deveria ser – discutido em outros lugares. Aqui o assunto é (sim, é!) arte, música.
Até que ponto, quadros feitos por algoritmos de computação podem ser considerados arte? E textos gerados por I.A? Podem ser considerados literatura? Esculturas?
E no que é mais próximo e mais comum a nós aqui, a música?
Se simplesmente gerada pela tal inteligência já pode soar estranha, embora possa vir a ser algo “original”, o que dizer de algo gerado pelas tais I.A emulando estilo e usando elementos e até trechos da obra de um determinado artista?
E não são coisas bizarras como colocar, por exemplo, Renato Russo cantando “Evidências” dos agro-oldies Ch&X... mas de algo ainda mais complexo e até perturbador.
Como isto... O canal de youtube Art & Intel se utilizou destes artifícios para gerar “novos” discos do Pink Floyd e os disponibilizou para audição e download.

capa do "disco" criada pela Art & Intel

O exercício de imaginação dos caras “criou” dois álbuns chamados: All in All, com doze faixas e The Third Kind que traz oito “canções originais” da banda e ainda que pese a honestidade dos caras em tascar nas capas “Full A.I. Album”, o que se traz – ou tem que se trazer – à tona é: onde isso pode chegar? O como e quanto isso pode ser usado para enganar ouvintes e compradores fazendo uso de imagem e obra de artistas vivos ou mortos para ganho pessoal (e ilícito) até que os respectivos departamentos jurídicos destes possam entrar em ação e conter os danos?
Neste caso especifico, o site deu todas as informações de como foram compostas as “novas” músicas explicando que se utilizaram de programas como Udio alimentado com bases conhecidas da banda para gerar os vocais (e provavelmente as letras); Midjourney para a criação das capas e o manjado e conhecido Audacity para edição, mixagem e masterização do material.
Curiosamente, o resultado rescende muito mais à fase David Gilmour da banda e questionados, os responsáveis disseram não ter encontrado a base de voz de Waters. Algo que incomoda outro tanto é a reação normalizadora do público dizendo que o material é: “(...) Bem montado, com a voz de Gilmour soando perfeita.” – ou – “É bonito e tem a essência do Pink Floyd.”, ficando – assustadoramente - como únicas críticas a ausência de Roger Waters no material ao que o pessoal do site respondeu dando a dica de que em uma das faixas (“Rain or Pain”, do All in All) “(...) ela aparece um pouco”.
Embora os dois “álbuns” tenham recebido em conjunto e até agora mais de 45 mil visualizações, os responsáveis pelo nome e marca Pink Floyd não se pronunciaram sobre o assunto.
Quem quiser conferir, o endereço para a página está no link:  Art & Intel 

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