O Queen lançou a Collectors Edition de seu primeiro disco
auto intitulado de 1973.
Rebatizado como Queen I, a caixa traz coisas bem
interessantes para os fãs e como sempre, uma pequena picaretagem.
O pacote tem seis cds e um LP que, segundo Brian e Roger, mostram o disco como
ele deveria ter sido lançado.
Há alguns anos Brian já havia dito que achava o disco bom, com a energia juvenil que a banda jamais teria novamente, porém, com produção ruim (entende-se pelos horários em que foi gravado) e som um tanto precário.
Nessa nova versão, Brian e Roger juntamente com Justin Shirley-Smith, Joshua MaCrae e Kris Friedriksson, limparam as masters e com ajuda da mesma tecnologia que possibilitou a canção “Now and Then” dos Beatles, criou novos mixes para as faixas deixando o som muito, mas muito, mas muito melhor que o original e qualquer reedição posterior.
Até as transições entre as passagens instrumentais soam mais “naturais” e completas, possibilitando ouvir coisas dos arranjos que estavam soterrados.
Porém, há trechos que soam como se tivessem sido feitas agora, dando aquele gostinho de coisa suspeita.
Atrapalha a experiência do ouvinte?
Do ocasional, não, do fã mais xiita, talvez.
Outra pequena picaretagem é a inclusão da canção “Mad the Swine”, realmente gravada nas sessões do álbum, mas que não apareceu no lançamento original por que Mercury achava que destoava do restante das composições escolhidas.
E realmente destoava... Enfiada entre “Great King Rat” e “My Fairy King”, dá para notar a estranheza monstro que fica alí.
A caixa ainda conta com discos com as demos gravadas no De Lane Lea Studios; apresentações na BBC entre 1973 e 1974; backing tracks das canções estilo fly on the wall e apresentações ao vivo entre 1974 e 1973, mas daí, quase nada é inédito já que tudo estava espalhado em outras edições (cds bônus na caixa dos 40 anos da banda, discos apenas com material da BBC e álbuns ao vivo) sendo apenas as duas faixas finais do último disco gravadas em agosto de 1970 no Imperial College de Londres, no que provavelente é o primeiro registro da banda ao vivo: “Jesus” e “I´m A Man”, cover de Bo Didley com um som muito bom são a cereja de todo o bolo.
Acompanha também um livro de 108 páginas com reproduções dos manuscritos originais das letras, poster e muita memorabília.
Obviamente o treco é caro e só chegará aos fãs brasileiros via importação, mas está disponível nos streamings para quem quiser conferir o disco “reescrito”.
E se tem uma banda que gosta de reescrever a própria
história para dar uma abrandada nas coisas ou simplesmente criar uma nova
narrativa nova sobre sua obra e assim arrancar uns caraminguás a mais do fã,
essa é o Queen.
Só lembrar do horroroso filme Bohemian Rhapsody onde até
inverter ordem de gravação e lançamento de discos os caras conseguiram fazer (sem
contar a amansada na história verdadeira para criar um produto “Family Free”)
colocando Rock In Rio antes da primeira vinda da banda ao Brasil em 1981, gravação de “We
Will Rock You” (1977) por um Freddie bigodudo – e quase careca - que só
apareceu anos mais tarde (1980, no The Game) e outras coisas alegadas como “licença
poética”.
Licença poética em fatos e cronologia é meuzovo...
Mas a tática picareta ao menos produz bons produtos em áudio, embora muitas vezes prometa algo inédito que acaba se mostrando meio que fake.
Começa pelo disco póstumo Made In Heaven (1995) onde as faixas “inéditas” eram a voz guia de Mercury em seu disco solo Mr. Bad Guy (1985) sobre instrumental gravado pela banda ou “Heaven For Everyone”, gravada pela banda solo de Roger Taylor, The Cross, no disco Shove It (1988) e sim, havia algumas faixas alí que soavam inacabadas como “Let Me Live”, “A Winters Tale”, “You Don´t Fool Me” e a tristíssima “Mother Love”.
Depois veio a coletânea dupla de baladas Forever (2014) com três destas inéditas sendo que “Let Me In Your Heart Again” era uma faixa descartada das sessões de The Works (1984) e duas eram – novamente – da carreira solo de Mercury repaginada com a guitarra de Brian May e a bateria de Taylor (o baixista John Deacon não toca mais com a banda desde a canção “No One But You (Only The Good Die Young)” lançada sem Freddie na coletânea Rocks (1997).
E aí começam os boxes “de luxe” com muito material gráfico de – sim! – ótima qualidade e de relevância para fãs com novos mixes e remixes.
Em 2017 veio a edição de 40 anos do clássico News Of The World (1977) foi a primeira e trouxe – ao menos – um disco com versões embrionárias das canções com a banda toda no estúdio que já valia o investimento. Os outros discos continham backing tracks, versões da BBC e faixas ao vivo que já haviam sido distribuídas em outros lançamentos.
Em 2022 foi a vez de um disco menos conhecido e bastante criticado da banda ganhar uma collectors edition: The Miracle (1989).
A grande jogada deste lançamento nem é a horrorosa música "inédita" ("Face It Alone"), mas sim o disco com a banda levando ao vivo no estúdio canções que jamais foram tocadas nos palcos já que a banda parou com os shows na turnê do disco anterior por conta da saúde de Freddie.
Também é a primeira vez que a banda promete repaginar o disco e relança-lo tal qual como tinha sido originalmente pensado, mas, pela limitação do vinil teve de ser cortado.
No The Miracle original, a faixa “Too Much Love Will Kill You” foi posicionada entre “I Want It All” e “The Invisible Man”, o que fez todo o sentido.
Há o argumento de que essa versão poderia ter sido lançada em CD em 1989, mas a banda – incluindo Freddie – achou de bom tom não a incluir por conta do título que poderia ser interpretado de forma errônea após a morte de Mercury que todos sabem, foi em consequência da AIDS.
A faixa acabou fazendo parte do disco solo de Brian May, Back To The Light (1992) após ter sido apresentada no Tributo à Freddie Mercury e depois no Made In Heaven com a voz guia de Freddie.
E por fim esse relançamento do primeiro álbum.
É picaretagem? Até é, mas enfim: Shut up and take my money...
Comentários
Postar um comentário
Seja o que você quiser ser, só não seja babaca.