Discos para quem gosta de música: Olhos De Farol (1999)

Listas gringas que classificam discos brasileiros é um fetiche de muitos por aqui.
E essa tara acaba se tornando uma espécie de verdade absoluta.
As vezes sem nem ter ouvido os discos em questão ou outros do mesmo artista.
Assim, Clube da Esquina, Acabou Chorare, Fruto Proíbido, Chega de Saudade, As Quatro Estações, Cabeça Dinossauro e alguns outros viraram os intocáveis do panteão e pouca gente tem a coragem de falar que estes, apesar de serem realmente sublimes, podem nem ser os melhores nem do artista que os lançaram.
Logo, Pietá, Novos Baianos FC, Saúde, Amoroso, Dois, Jesus Não Tem Dentes... só pra dar uns exemplos ou não existem ou esse povo especial aí nunca ouviu...
E esse também é o caso do Olhos De Farol, lançamento de 1999 de Ney Matogrosso.


Não é badalado como Água Do Céu Pássaro, Bandido, Seu Tipo ou Mato Grosso de 1982 mas é tão bom ou melhor que todos eles.
Nele, Ney selecionou material de - à época - jovens compositores como Lenine, Moska, Pedro Luiz e juntou com peças de gente já consagrada como Cazuza e Frejat, Itamar Assumpção, Rita Lee, Luiz Tatit, Ronaldo Bastos, Chico Amaral e Samuel Rosa.
O som é moderno, sem ser modernoso e nunca escorregar para o fácil. Simples sim.
Como no arranjo maravilhoso de guitarra slide e violão de aço tocados por Frejat para "Poema", letra até então inédita de Cazuza ou o baião nuclear "A Cara Do Brasil" de Célso Viáfora e Vicente Barreto que encerra o disco perguntando qual a cara da cara da nação e afirmando que: "...a gente é torto igual Garrincha e Aleijadinho e não precisa consertar".

Outras pérolas tão geniais quanto são "Novamente" de Fred Martins e Alexandre Lemos; a delicada "Depois Melhora" de Luiz Tatit que versa sobre perda e o processo que se segue (...Sempre que alguém daqui vai embora / Dói bastante mas depois melhora (...) É bom não falar muito que piora / Enfim.); "Miséria No Japão" de Pedro Luiz e a lindíssima "Bomba H" de Itamar Assumpção e Alzira E.

Escudado por músicos lendários como o super baixista Arthur Maia, Serginho Trombone, Marçal, Marcos Suzano, Sasha Amback e o guitarrista Ricardo Silveira, Ney embarcou em uma vitoriosa turnê que rendeu Vivo (2000), possivelmente o melhor disco ao vivo brasileiro de todos os tempos e que também não figura nas listas das publicações gringas... 

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