A influência da literatura de Tolkien na música - Especial Blind Guardian (2)

Após a primeira parte do combo Tolkien + Blid Guardian, seguimos hoje, com a discografia dos músicos.

Foi perceptível que, no primeiro álbum houvesse uma notória influência da literatura mundial.  Os caras eram autênticos nerds! Por exemplo, Guardian of the Blind é inspirada em um romance de Stephen King. 
Já no segundo álbum do grupo, o autor voltou a dar as caras. Follow the Blind de 1989 trás na faixa título a inspiração de O Talismã, não de Sir Walter Scott, mas de um romance publicado em 1983, escrito por Stephen King e Peter Straub.
Embora não tenha nenhuma menção específica à alguma obra de Tolkien nesse disco, os temas de algumas músicas se ligam aos gostos do autor inglês de alguma forma.



A começar pela capa, cuja a arte é uma ilustração de fantasia, leitura favorita do Tolkien. Católico, saberia reconhecer a faixa Inquisition. Ela é uma versão da frase em latim "Pie Jesu Domine, dona eis requiem" (algo como “Ó misericordioso Senhor Jesus, conceda-lhes descanso”) dita pelos monges. A frase faz parte da Missa do Réquiem da Igreja Apostólica Romana, e é idêntica àquela cantada pelos monges do grupo de comédia Monty Python, especificamente no longa: Em Busca do Cálice Sagrado (1975).



Hilário!

Ainda numa ressignificação cristã, Banish from Sanctuary  é baseado na vida de João Batista e Hall of the King é sobre a fé e ser fiel. Existe aí uma áurea católica que, de alguma forma se liga à Tolkien - embora em nenhum momento ele tenha afirmado que suas obras maravilhosas fossem alegorias de um mundo cristão, como o seu companheiro C. S. Lewis fez com os escritos de Nárnia, por exemplo. Nem mesmo a Igreja é mencionada como instituição, ou rituais que fossem religiosos na Terra-Média. No entanto, algumas noções acabam recaindo na doutrina cristã, tais como: um Deus único, onipotente e onipresente, e resoluções morais de algumas personagens, se encaixa aos dogmas cristãos, como a criação do mundo de Arda, um suposto livre-arbítrio regendo as escolhas das personagens.
Há quem encontre mais indícios: o Anel seria a Cruz e Frodo, Jesus Cristo. Gandalf tendo uma queda e uma ascensão como uma espécie de messias/salvador, também. São interpretações que, não necessariamente, se aproximam do que Tolkien queria. Ele sempre afirmou ser contra alegorias e certa "pregação" era encarada por ele com muita relutância. No prefácio de O Senhor dos Anéis, ele contestava que o romance tivesse sido uma "resposta" à Segunda Guerra e Mordor/Sauron fosse uma alegoria do Nazismo/Hilter. Seria tudo uma mera coincidência, já que o livro começou a ser rascunhado muito antes, mas admitia que certas interpretações estavam fora de seu controle. 
Precisamos ter um certo cuidado com isso, para não afirmamos as coisas à esmo e, assim promover um descaso das obras (sejam elas, quais forem) - mesmo que isso seja um padrão seguido pela mídia e, ocorra inclusive, com muita frequência no meio acadêmico - lugar de fala onde o critério deveria ser muito mais rigoroso do que vem atualmente acontecendo.

Outras passagens que atraía Tolkien e atraiu músicos do rock pesado - e não foi diferente com os alemães do Blind Guardian nesse segundo disco - é a mitologia, especialmente a nórdica. Nesse caso, Valhalla faz referência à mitologia dos homens e mulheres do norte da Europa, relatando sobre um mago que lamenta a perda dessa referência de seu povo, sugerindo a mudança histórica da religião pagã nórdica para o cristianismo.

So many centuries, so many gods
We were the prisoners of our own fantasy
But now we are marching against these gods
I'm the wizard, I will change it all

Valhalla, deliverance
Why've you ever forgotten me?
(Tantos séculos, tantos deuses / Nós éramos os prisioneiros da nossa própria fantasia / Mas agora nós estamos marchando contra estes deuses / Eu sou o feiticeiro, eu mudarei tudo / Valhalla, libertação / Por que você já me esqueceu?)


Nela, Hansi divide os vocais com Kai Hansen do Gamma Ray e ex-Helloween - contribuição preciosa para o início da carreira da banda.

Hansi Kürsch usava bem as suas leituras para compor as músicas da banda. Damned for All Time e Fast to Madness são ambas baseadas nos romances de fantasia de Michael Moorcock. No caso, Fast to Madness contém uma referência "Stormbringer"  - uma espada mágica apresentada em várias histórias de fantasia de Moorcock. É descrita como uma enorme espada negra coberta com runas estranhas esculpidas em sua lâmina. É empunhada pelo imperador albino condenado Elric de Melniboné. Ele encontra "Stormbringer", que foi criada por Caos e que faz com que ele seja alienado de seus amigos íntimos e sua família, tirando almas de cada um deles, eventualmente, até mesmo levando sua própria alma por satisfazer a fome da espada. 

Em termos sonoros o disco é mais maduro que o primeiro. De acordo com o guitarrista Marcus Siepen, na gravação de Follow the Blind foi o período que ouviam bandas de thrash metal como Testament e Forbidden. Isso confere ao segundo álbum, um maior peso em relação ao primeiro, como dá para sentir pela faixa título:


Próximo post, falaremos do terceiro álbum, Tales From The Twilight World (1990). Esse sim, é recheado de referências tolkieianas. Ficará para o nosso próximo post! Até lá!

Abraços afáveis e Musique-se!

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