Desejos Noturnos: A trajetória da banda Nightwish até aqui (#3)

Uma nova fase estava começando em 2007. Os novos desafios com a nova vocalista estavam impostos. 
O sexto álbum do Nightwish, Dark Passion Play rendeu muitas críticas, tanto positiva quanto negativa. 
Alguns críticos musicais deram conta de que a banda estava "acabada" sem Tarja, algo que muitos fãs acabaram comprando como justificativa para abandonar de vez o grupo. Ainda hoje, 13 anos depois do lançamento do disco, toda vez que alguém fala em Nightwish, a maioria relembra Turunen, ignorando todo o trabalho que foi feito depois e isso é verdadeiramente um saco.

Como crítica positiva, dá para mencionar com propriedade que Dark Passion Play teve (e tem) um fã de carteirinha: ninguém menos que Steve Harris. 
O baixista do Iron Maiden declarou à revista Metal Hammer que quando ouviu o disco achou "um álbum foda" e acrescentou que a cantora – que muitos torciam o nariz por ser "pop" demais – tinha sido brilhante. Harris ainda disse que tinha sido um dos melhores álbuns que tinha ouvido na vida e eu só pude concordar com ele. Talvez não é o meu melhor álbum, mas seguramente era uma obra notável da banda.
O disco tinha a mesma magia dos primórdios; contemplação com a poesia e a música clássica – apesar da troca de vocal – ainda dava as caras. Havia o plus do metal propriamente dito como em Master Passion Greed (ouça aqui) uma das minhas favoritas do álbum e da banda e cuja letra é uma extravasada de raiva para com o esposo e empresário de Tarja. Pesada, ela contrasta com a leve faixa folk acústica The Islander, cujo o clip dava o carimbo Nightwish:



DPP abre com a épica The Poet and The Pendulum, onde Tuomas escreveu passagens totalmente pessoais que culminam na encenação de sua "morte" e sua "ressurreição" de forma muito bela. Ouçam, se puderem e não tiverem problemas com músicas longas (pois ela possui atos e ao todo, são quase 14 minutos de duração) clicando aqui
Foi na tour de divulgação desse disco que realizei minha vontade de vê-los ao vivo, numa apresentação no Via Funchal em São Paulo, em novembro de 2008. Foi uma experiência inesquecível, como outros shows (de outas bandas) que eu iria conferir, depois.

O álbum seguinte deveria representar o mais um grande salto para os músicos e esse foi Imaginaerum, que demorou um pouco mais para ser lançado, por dois motivos: as gravações foram finalizadas mais tarde, pois Anette ficou grávida. Além disso, o álbum era conceitual - contaria a história de um velho compositor relembrando sua vida em seu leito de morte. Por isso, foi produzido junto com um filme baseado nas letras, também intitulado Imaginaerum, dirigido por Stobe Harju e que contou com pequenas participações dos músicos em meio à atores profissionais.

A obra de 2011 também conquistou Steve Harris: "Storytime é uma música fantástica, imediata. Levei um tempo para assimilar o restante do álbum. 'Dark Passion Play' foi tão excelente, que eu achava que não havia como eles virem com um álbum próximo daquilo, mas quanto mais ouvia 'Imaginaerum', mais eu amava o álbum."

De fato, Tuomas conseguiu realizar um sonho: produziu um longa intimamente ligado à sua vida, com feições de Disney e Tim Burton e ainda pode contar com amigos para a concretude deste. Com Anette, por incrível que pareça, o que era apenas um projeto acústico, se tornou grande. Ela ajudou a marcar algo muito notável na história da banda pois, ao ouvirmos as canções de disco, não conseguimos imaginar que ficassem tão boas no vocal engessado e operístico de Tarja, e Storytime é um bom exemplo. Ela brinca com a voz como uma contadora de histórias. Algo espetacular nunca antes ouvido na banda.



Além desta, Scaretale (ouça!) também tem essa ambiência de conto de fadas totalmente demais!
A faixa que abre o disco, Taikatalvi que do finlandês quer dizer "Inverno Mágico" é como se Marco viesse com um "era uma vez" para os ouvintes. 
Não poderia faltar também uma faixa épica: Song of Myself é dividida em 4 capítulos - From a Dusty Bookshelf, All That Great Heart Lying Still, Piano Black e Love.
O disco, apesar de totalmente ligado à vida de Tuomas, tem uma música composta por Marco Hietala, a ótima The Crow, The Owl and The Dove.

Quase ao fim dos shows da Imaginaerum World Tour, precisamente na passagem da banda pelos EUA, Anette passou mal em Denver no Colorado e foi internada. Tuomas foi ao palco com um dos empresários e os alertou do problema à platéia. Foi dado duas opções: cancelamento do show e devolução do dinheiro dos ingressos ou substituição de Anette, imediata. A maioria do público votou pela segunda opção e a banda teve uma hora para "treinar" as cantoras Elize Ryd e Alissa White-Gluz, das bandas Amaranthe e The Agonist, respectivamente, que abriram para a banda.

No dia seguinte, Anette revelou aos fãs que não havia sido consultada sobre a substituição e manifestou insatisfação com a medida tomada. Naquele mesmo dia, ela se apresentou em Salt Lake City com o Nightwish pela última vez, e a banda revelou dois dias depois que eles haviam entrado em acordo e ela estava de saída. Às pressas, os empresários entraram em contato com Floor Jansen – ex After Forever – para terminar a tour e junto com a saída de Anette foi anunciada a sua "chegada". Na ocasião a cantora sueca havia afirmado que saia e estava contente de ter feito dois álbuns  bonitos e show maravilhosos juntos.

Algum tempo depois os fãs souberam que Anette não "esteve doente", apenas estava grávida novamente durante a tour e as viagens, a pressão da tour fizeram com que ela passasse mal. Um ano depois de sua saída ela veio à público "reclamar" que não saiu do Nightwish por vontade própria e que havia sido demitida como sua antecessora, tendo a gravidez como um dos motivos.
Vale ressaltar que, apesar desse ato feio por parte da banda, Anette havia engravidado durante a produção de Imaginaerum e Tuomas e os empresários aguardaram o seu estabelecimento para saírem em tour – bem como alternaram as datas e ajustaram o conforto da mãe com os filhos (Anette já era mãe de um menininho antes de entrar para o NW) em relação às viagens. Durante a tour, ela engravidou de novo, colocando datas já espaçadas por conta dela, em risco de não serem concluídas pelo seu histórico de gestação exigirem repouso e o mínimo do esforço.

Os membros da banda responderam no site oficial que a demissão de Anette não se deu pela gravidez ou problemas de saúde, mas que a sua personalidade não combinava com os demais músicos e a relação entre eles estava se tornando prejudicial.
Era o fim de mais outro capítulo que, apesar de bem sucedido, colocava a banda de novo, numa corda bamba. Tuomas abandonaria tudo, ou com a ajuda dos demais, conseguiria forças e se reinventariam?

A primeira e segunda parte da trajetória do Nightwish pode ser conferida aqui e aqui. Amanha, a última parte! Abraços afáveis!

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