Crowley: O bruxo “influencer” de rockeiros (3)


A década de 1960 estava aos turbilhões, como bem sabemos. Mas Jimmy Page não era o único que teve uma "ligação" com o excêntrico mago Aleister Crowley. É bem justo que, já que este é o tema, nos voltemos para os Beatles, já que estes são o maior nome deste período - e são até hoje, uma banda que rende assunto onde quer que vá.

Proponho uma agitada no esqueleto (especialmente você aí que está sedentário nessa quarentena).  Você aí, tem na sua coleção o disco Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band (1967) em casa?  Pois levante e vá até a prateleira, pegue o disco e dê uma olhadinha na capa. Observe bem as figuras ali (e que são muitas e é uma das capas de disco que mais gostava de ficar olhando, quando era criança).
Olha, "quem veio para o jantar"!?!






Ringo Starr disse à Hit Parade que ali ao fundo havia o retrato de todas as pessoas que eles admiravam. Paul McCartney comentou a Rolling Stone que a capa do disco iria "ter as fotos de nossos heróis na parede". John Lennon - seguramente o mais "loucaço" do quarteto - deixou claro que a banda em si era um ensinamento de Crowley; o "faça o que tu queres" não era só um lema do bruxo, mas também dos garotos de Liverpool. Foi a pedido de John que a foto de Crowley estava no álbum.

O disco mencionado dá uma matéria à parte. Ele reforça uma teoria que eu, por brincadeira ou provocação, adoro citar em qualquer oportunidade que encontro: "Paul is Dead". A base dessa lenda é até piegas. Antes do lançamento do disco Revolver (1966) o som dos caras era acessível, popular até. Mas os indícios de que alguma maturidade sonora estava para ser alcançada, já apreciam em Rubber Soul (1965). Com o Revolver, os Beatles se reinventaram e de certa forma, revolucionaram o próprio som a ponto de ser até consideradas complexas para execuções ao vivo. Foi decidido então que não haveria mais shows. Era - como Paul teria dado à entender na ocasião - como se o disco marcasse o começo de um "novo The Beatles" e essa nova banda se afastaria daquela imagem de garotos bonitinhos (hã?) envoltos de uma platéia recheada de moças histéricas, gritando seus nomes e tampando os sons de seus instrumentos. 
A melhor ideia está já na capa: do lado esquerdo estão os "velhos Beatles", uma foto deles mesmos, com os clássicos ternos ao lado dos novos caras, com roupas coloridas acetinadas. 

À isso, soma-se o fato mais bizarro: tendo sofrido um acidente de moto (ou carro) – que de fato aconteceu - o verdadeiro Paul McCartney não teria resistido e morrido. Para evitar que a banda acabasse, ele foi rapidamente substituído por um sósia – por isso, a sonoridade do Revolver era “tão diferente” que seus antecessores.

A faísca foi dada e desde este momento, as capas dos discos deixavam pistas que reforçassem a lenda e o primeiro indício disso, está no Sgt Peppers. Estão ainda com o disco em mãos? Ótimo! Reparem que as flores dão um ar de funeral e enterro. O arranjo delas forma o nome da banda e também um desenho de um baixo Hofner, semelhante ao que Paul usava. Ele também está retratado virado do lado direito, pois ele era é canhoto. 
Há uma mão aberta sobre a cabeça do Paul central como se o "abençoasse" e perto da letra T do arranjo de flores, uma estátua de Shiva, a deusa hindu da morte posta exatamente no rumo do suposto falecido Beatle.

Nas músicas do disco, ainda existem os "peguinhas" que muniu os conspiradores de plantão como se fossem "provas" de que o acidente sofrido por Paul não teria sido simples, com escoriações, um corte no lábio ou um dentre quebrado – mas que teria sido fatal.  
Na faixa título, Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band, ouvimos no último trecho da música: "So let me introduce to you / the one and only Billy Shears". Comenta-se então que o tal "Billy Shears" seria o sósia substituto de McCartney.

Em A Day In The Life (ouça) existe mais um trecho que deixa a gente de sobrancelhas arqueadas:

He blew his mind out in a car
he didn’t notice that the lights had changed
A crowd of people stood and stared
They’d seen his face before
Nobody was really sure if he was… 
("Ele estourou sua cabeça em um carro / Não percebeu que as luzes do semáforo havia mudado / Uma multidão parou e assistiu / Eles viram seu rosto antes / Mas ninguém tinha certeza se era ele...")

Coincidência? Muito provavelmente. É aquela coisa: se procurar, você pode achar.
É natural também que, de alguma forma, ter Crowley na capa, tanto misticismo pudesse ser pinçado na obra, seja nas letras ou na arte. 
Os Beatles estavam sim numa fase em que tomar conta das suas próprias escolhas e quererem trilhar os caminhos, estava no ápice das prioridades. De alguma forma, eles queriam também polemizar com ímpeto. Deveria ser realmente chato aquela gritaria toda, e os caras que queriam fazer muita música e curtir isso, estavam vendo seu trabalho colocado de lado. Era uma nota e a gritaria não tinha mais fim, até que eles deixassem o palco.  Neste cenário, imaginamos que não era fácil e especialmente Lennon, que tinha forte personalidade, seria o que mais demonstraria desconforto com toda essa histeria.

Lennon, era o mais "afrontoso" do grupo, colocou o Crowley na capa do disco e mais tarde, releituras dariam conta de que uma de suas mais conhecidas músicas – Imagine – que contém nos versos, uma forma poética de imaginar um mundo melhor, teria sido escrita à luz de alguns ensinamentos do excêntrico místico.

Assim como encontramos esses indícios como uma suposta inspiração em Crowley, poderíamos encontrar paradigmas socialistas, especialmente quando ele diz:

Imagine no possessions
I wonder if you can
No need for greed or hunger
A brotherhood of man...
("Imagine que não existe propriedades / Será que você consegue? / Sem ganância ou fome / Uma fraternidade do Homem...")

"Faça o que tu queres" ou "Poder ao povo"? É, Power To The People é mais uma do Lennon...
São lemas, ditos, paradigmas...
E por falar em paradigmas, Lennon era um ávido crítico do cristianismo, lembram? Suas falas deixavam bem claro que era um anti-cristão convicto e ter dito que banda era mais popular que Jesus Cristo atiçou os cristãos a ponto de condená-lo bastante. Houve boicote e queima de todo material relacionado aos Beatles como protesto, como se isso adiantasse alguma coisa. 

Ele não estava de todo errado, os Beatles eram muito populares quando surgiram e foram assim até o desmantelamento do quarteto. Depois, havia quem sonhasse com a reunião dos músicos. As pessoas sofrem mais em nostalgia por conta deles terem se separado e não poderem mais tocar juntos, do que a Páscoa, por exemplo.
Mas que a comparação pode ter soado como heresia, isso pode. Mesmo que ele tenha dito que Jesus era bom e que o problema eram os seus seguidores. Mas por essas e outras manifestações polêmicas, a forma como ele "se foi" naquele 8 de dezembro de 1980, acabou gerando ainda mais palpites maldosos: quem não gostava de suas opiniões religiosas, atribuiu o seu assassinato à uma forma de castigo divino.

Mas claro que, sua trágica morte não teve relação com as suas afrontas aos dogmas religiosos ou mesmo políticos. Por sinal, há um ótimo texto publicado aqui no Musique-se sobre uma das peripécias de Lennon que o Ron Groo escreveu e que é espetacular. Se não leram, ajudo-os com o link: Os anos de excesso não fizeram muito bem ao Lennon não... 

Aí está, os anos de excessos o deixou - e já tendencioso à maluquices -  muito mais  excêntrico. A hipótese de que ele seria um homem dado à misticismos existiu porque, segundo conta-se, Lennon teria começado seu interesse pelo ocultismo ainda no período difícil da banda na Alemanha, quando tomou contato com certo Dr. Pepper, um iniciado da Thelema de Aleister Crowley...  
"Dr." ou "Sgt."?


A sua fama de condenar o cristianismo, vinha de cedo. Afrontar governantes gananciosos e pregar sobre sociedades livres, que vivem em paz também era outra coisa que fazia os conservadores o chamarem de "comunista". É, Karl Marx também está na capa do Sgt. Peppers. 
E sabemos também que "comunas" sempre estavam ligados com o "capetoso": rotulados como "comedores de criancinhas", de "não acreditarem em Deus", não era de se espantar que a imagem de John Lennon estaria ligada à mitos de pactos ou rituais satânicos.
Há quem dissesse que antes de estar nos Beatles, e desejoso de ser o "novo Elvis Presley", John teria feito um pacto com o Diabo para ter sucesso - assim como alguns disseram que foi o caso de Jimmy Page. Só que dessa vez, os conservadores cristãos associariam o assassinato de Lennon em 1980 como a vinda do "Coisa Ruim" para cobrar a sua dívida. Ah... Nada legal... Nada legal...! 

Semana que vem, viremos com mais um ritual uma matéria sobre Crowley e rockstars. Até!
Abraços afáveis!

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