Crowley: O bruxo “influencer” de rockeiros (7)


Muitos outros artistas da cena do rock se inspiraram na figura emblemática e na lei thelemica de Aleister Crowley – "Faça o que tu queres". Há bastante pauta, mas hoje, fechamos o assunto, antes que vocês cansem dele (risos). Alguns nomes ainda não foram mencionados dentro do escopo, portanto, se segurem aí que vamos pincelar sobre alguns deles. 

Jim Morrison, líder do The Doors, esteve profundamente imerso no ocultismo. Em suas apresentações ao vivo, ele aparecia constantemente em estado de pleno transe. Não era simplesmente uma encenação ou uma performance rebuscada. Alguns davam como certo que Jim era uma espécie de xamã no palco e isso fica bem claro para qualquer imagem que se procure assistir dessas apresentações.

Conta-se mais coisas a respeito do vocalista: ele e sua noiva teriam se casado em uma cerimônia na religião Wicca. Alguns detalhes da cerimônia podem causar estranheza e até não seria de se espantar que fosse mais um boato criado com o intuito de pintar a imagem do artista excêntrico. O casamento teria sido realizado com os noivos com um de seus pés sobre um pentagrama desenhado no chão, brindando um com o sangue do outro.

Nas cerimônias wiccanas não há menção de pentagramas, mas um círculo feito pelo sacerdote delimitando o local onde ficarão os noivos durante o ritual de união. Nas fotografias encontradas na web é simplesmente um arranjo de folhas e flores dispostas em círculo, com velas e incenso. Na altar também, nada demais: cristais, óleo de rosas, cálice de água, espadas e punhais (que não serão usados para nenhum tipo de sacrifício), como símbolos de funções específicas do ritual. Não se menciona que devem beber o sangue um do outro, claro!
Ou não era um casamento wiccano, ou as adaptações modernas da religião pagã amenizaram as esquisitices. 

Ainda encontramos um indício mais forte de que Jim Morrinson tinha alguma ligação com o bruxo. A contra capa do álbum do The Doors – 13 – mostra a banda reunida em volta de um busto de Aleister Crowley.



A tal imagem parece meio "deformadinha" e o busto é um misto de Inimigo Meu (filme de 1985) e a figura do Homem Elefante... (risos)
Brincadeiras à parte, Morrison admitia que Satanás era a fonte de sua música e inclusive teria dito a seguinte frase, recheada de sentido sobrenatural:

"Encontrei o Espírito da Música… Uma aparição do diabo em um canal de Veneza. Correndo, eu vi um Satã ou um Sátiro, movendo-se ao meu lado, uma sombra em carne da minha mente secreta…"

Essa é uma citação do livro "The Lost Writings de Jim Morrison".  
Morrison teve no seu histórico alguns episódios em estado completamente "doidão". Parece que este era um deles. E há dois lados nisso: excentricidade pura e simples de todo rockstar que curte umas substâncias ilícitas apresenta e uma busca artística sem limites. Nesse último caso, seus fãs acham ele um verdadeiro gênio da poesia. É para quem gosta, mesmo.

Jim faleceu em 3 de julho de 1971, nos fatídicos 27 anos. Encontrado numa banheira em seu apartamento em Paris, o laudo médico acusou "ataque cardíaco". As razões de sua morte seguem incertas; fãs e biógrafos especulam que a causa da morte tivesse sido por overdose de heroína. Ele teria procurado no verão daquele ano por um produto que fosse puro, mas ao mesmo tempo, paira a dúvida. A sua namorada era a viciada em heroína e ela sim, morreu em 1974 por overdose, confirmada.

Há mais exemplos de artistas estranhíssimos, inclusive, muito performáticos.  Muitos dos fãs de David Bowie sabem que o cantor tinha uma obsessão secreta por doutrinas gnósticas, ocultismo, paranormalidade, Aleister Crowley e Nazismo. Diversos livros autorizados ou não comentaram sobre essas coisas.

No auge da turnê Ziggy Stardust (entre 1972 e 1973) conta-se que ele carregava uma biblioteca de livros gnósticos e ocultistas onde quer que fosse, e mantinha frascos com a própria urina em geladeiras… Talvez fosse apenas o início de uma fase excêntrica, mas ele passou a ficar muito focado no uso der pentagramas como proteção contras sinistras forças espirituais. Esses desenhos eram, muitas vezes, estilizados em maquiagens prata ou dourados em sua testa. Há também os relatos de que ele via nos shows seres desencarnados, e que praticava rituais ocultistas em camarins repletos com velas pretas.
Se Jim Morrinson viu Satã encarnado, Bowie teria visto extraterrestres na platéia de um show em Los Angeles, em 1974.

Que toda a sua carreira era envolta em imagens exóticas, místicas e bem hipnotizantes, isso é fato. Daí a sua fascinação pelo Nazismo. Não que Bowie fosse Nazista, longe disso. Ele simplesmente tinha incomum atração pelos comícios e a multidão que Hitler mobilizava no auge do Terceiro Reich. Para ele, o do bigodinho teria sido a "primeira estrela pop", capaz de cativar e hipnotizar milhares de alemães com um discurso vil e cruel. Interessante, não é mesmo? Faz a gente pensar nas artimanhas que um discurso pode fazer com a nossa mente, em estado de vulnerabilidade...

A música Quicksand do álbum Hunky Dory (1971) Bowie cita a antiga seita "The Hermetic Order of the Golden Dawn", que entre seus membros, além de Aleister Crowley, possuiu Heinrich Himmler (um dos líderes do partido Nazista alemão) e  até o primeiro ministro britânico Winston Churchill.


Falamos sobre a Golden Dawn na primeira postagem sobre Crowley. Relembre, aqui


E por falar em pessoas cuja a imagem é exótica e também, por falar em seitas, na música Misery Machine do doidaço Marilyn Manson passa a ser o nosso próximo assunto. Nela, ouvimos ele cantar: "Vamos cavalgar até a abadia de Thelema", numa referência direta à seita criada por Crowley onde o postulado Faça que tu queres era colocado em suma prática.


Manson faz o seu shock rock há tempos. Num aspecto grotesco, meio andrógino, meio serial killer, mostrando os dois lados, opostos que, numa só sacada é escandaloso e perturbador, Manson tem seu som no subgênero que conhecemos como "Metal Industrial". 

King Diamond, o Rei Satânico mais conhecido do meio Metal, não poderia ficar de fora dessa. Da sua imagem até a sua crença, tudo orbita em favor de sua figura pública e não é apenas marketing. Apesar de tudo, ele é um cara sério e inteligente. Questiona fortemente os dogmas e costumes vigentes da sociedade cristã conservadora.

Além da literatura, outra inspiração para suas músicas, tanto com o nome de King Diamond tanto com o Mercyful Fate, vieram, principalmente, de uma filosofia satanista bastante conhecida e difundida ao redor do mundo por um sujeito tão excêntrico quanto Crowley: Howard Stanton Levey, mais conhecido como Anton Szandor LaVey (1930-1997), o fundador da Igreja de Satã (Church of Satan).

LaVey fundou a Igreja em 1966, na Califórnia, inspirado por dois movimentos mais fortes: pelos Hellfire Clubs que existiam na Inglaterra no século XVIII, e pelas ideias thelêmicas de Aleister Crowley. Fundada sua Igreja, LaVey escreveu um dos livros mais influentes e populares do satanismo:  "A Bíblia Satânica" (The Satanic Bible), que, segundo alguns, é uma "adaptação" de ideias de outras obras ocultistas colocadas como um "manual". 
Deste modo, "A Bíblia Satânica" apresenta toda a filosofia do satanismo moderno que tem influenciado o King Diamond ao longo do tempo de forma bem incisiva.
Exemplo meiguinho, fofo e florido? Então, aqui vai:



Além disso, Diamond usa diversos símbolos satânicos: cruz invertida, pentagramas e no logo de seu nome, o símbolo alquímico do elemento enxofre, comumente ligado ao Tinhoso como odor característico.

O Black Metal estaria muito bem representativo, inclusive: a banda Celtic Frost, possui em sua discografia um álbum chamado To Mega Therion – nome que, em grego significa A Grande Besta, mote ou título que Aleister Crowley assumiu ao atingir o grau Magus na ordem que ele mesmo criou, a Thelema. 
Na visão cristã, o termo "To Mega Therion" está relacionada ao cânone da vinda do Anticristo, isto é, a contraparte de Jesus que viria à Terra, encarnada como ele, só que, sendo filho de Satã representaria a queda e a destruição e não a salvação dos povos.

Outro aspecto para "To Mega Therion" é a correspondências com antigas mitologias meso-orientais, como a dragonesa Tiamat, morta por Gilgamesh (rei lendário sumério) em seu épico. Há também ligações com Leviatã - o primeiro ser aquático na mitologia semita - que, no final, lutaria com o primeiro ser da Terra, Behemoth, e com o primeiro ser do ar, Ziz. 

Por bem, faz sentido lembrar da banda Behemoth e a canção O Father, O Satan, O Sun fortemente influenciada por simbologias ocultistas:

Agathos daimon
Ov plague and fever
Thy name is nowhere
Thy name is never

Liberate me
Ignite the seeds
Bind not to guilt
Ignis gehennalis
(Espírito Benévolo / Da praga e da febre / Vosso nome não está em lugar algum / Vosso nome é nunca // Liberta-me / Inflame as sementes / Não se vincules / Ao fogo do inferno)

Acompanhem a performance ao vivo da música no Hellfest de 2014:


E nós brasileiros? Estivemos mantidos "no escuro" esse tempo todo? Não mesmo! O escritor Paulo Coelho e o cantor Raul Seixas foram os melhores discípulos do mago Crowley em nossas terras.
Raulzito nutriu suas músicas de dramaticidade e deu-lhes filosofias místicas, como em Trem das Sete Geração da Luz, Gita, Novo Aeon para citar algumas, além de conferir um teor ritualístico em seus shows.
Para quem leu Paulo Coelho, pode sacar algumas noções nessa direção, especialmente nos seus livros mais antigos: Diário de um Mago, Brida, As Valkírias e principalmente, O Alquimista. Por isso parece um erro bem gigante chamar o autor de "escritor de auto ajuda"... Místico? Sim. Maluco? Quem é normal? Mas autor de auto ajuda? Nem pensar...
Junto com Paulo Coelho, o (toca) Raul eternizou Crowley com o hino Viva a Sociedade Alternativa. "Faça o que tu queres / Pois é tudo da lei", diz a letra, já pararam para prestar atenção? 



Ao contrário do que possa parecer, Raul e Paulo queriam passar a mensagem de ausência de Estado nas decisões pessoais de cada indivíduo. Uma espécie de anarquia, porém regrada, até porque, o critério seria amplo e todo mundo poderia fazer o que fosse sem limites? Complicado! A liberdade que hoje, é gritada pelas massas como direito conquistado, tornaria fácil fácil, libertinagem e também supressão da democracia... 

É... Acho melhor a gente finalizar e se despedir por aqui! "Viva, viva!" (rsrsrsrs...)

Abraços afáveis e esperamos que tenham gostado dessa sequência sobre Aleister Crowley e suas influências em na arte (e vida) de diversos músicos. 

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