Hot 3: Marko Hietala

Conforme o início dessa semana, separamos uma matéria para falarmos dos músicos Alexi Laiho - falecido no dia 4 de janeiro - e do seu ex companheiro de banda (Sinergy) Marko Hietala - que anunciou, no mesmo mês que estava de saída do Nightwish e também da vida pública. (A história sobre ambos, foi feita neste post: As péssimas notícias para o Metal Finlandês).

Na última quinta, fizemos um hot 5 de canções de Alexi com a sua banda principal, o Children of Bodom como homenagem. Ainda que seu legado seja vasto, pinçamos uma lista simples para aguçar a curiosidade daqueles que ainda não conheciam seu trabalho até então. Cliquem a seguir para lerem: Hot 5: Alexi Laiho.

Para o Marko, a escolha se dá de forma diferente: não apenas 5 músicas compostas ou criadas por ele, mas 3 bandas/projetos das quais fizera parte e que o público mainstream talvez não conheça. 
Nesse ponto, não precisaremos apresentar ele no Nightwish. Talvez fãs da banda saibam que ele não era o baixista de formação e que veio de outra, mas, arrisco dizer que fora estes, boa parte nem sabe que a Tarja Turunen não é mais a vocalista, por exemplo. Sim, é possível, acreditem!

Em linhas gerais, o Nightwish começou como um projeto de músicas semi acústicas criadas por Tuomas Holopainen - não só o compositor, criador e tecladista da banda, mas também seu líder. Com um grupo de amigos do tempo de escola, reuniu Jukka Nevalainen e Emppu Vuorinen para serem, respectivamente, baterista e guitarrista. Tarja topou fazer parte da banda, mesmo estudando para ser cantora de ópera e assim, se deu o Nightwish. 
Com o avanço do projeto, logo Tuomas convidou Sami Vänska para ser o baixista e o line up estava completo. Assinaram contrato com a Spinefarm Records (subsidiária finlandesa da alemã Nuclear Blast) e em 1997 lançaram o primeiro disco: Angels Fall First.

Começaram a divulgar o trabalho, ainda tímidos e sem jeito com palco. Vieram os convites de shows, logo Tuomas tinha mais músicas, e Oceanborn estava sendo produzido para ser lançado em 1998. Em 2000, já notadamente conhecidos, veio o álbum mais maduro da carreira, abertura para maior sucesso na Europa e até mesmo, nas Américas: Wishmaster tinha canções poderosíssimas e a banda fazia show de casa cheia. A tour desse álbum rendeu o primeiro show gravado para DVD: From Wishes To Eternity

Nos extras deste DVD é possível ver algumas imagens do pessoal que compunha a banda Sinergy, que na ocasião chegou a sair em turnê com o Nightwish: 

► Roope Latvala:  mais conhecido por ser um dos guitarristas da famosa (mas extinta) banda de thrash metal, Stone; 

► Tonmi Lillman: conhecido como Otus, e um dos membros fundadores da banda Lordi. Era o baterista - cargo que já teria ficado com Janne Parviainen (que passou, em 2005, a compor a banda de folk metal, Ensiferum) e Jaska Raatikainen do Children of Bodom;

► Alexi Laiho: vocalista e guitarrista da banda Children of Bodom. No Sinergy, ele fazia dupla com Roope;

► Kimberly Goss: ex tecladista do Dimmu Borgir, vocalista e líder do Sinergy;

► E o próprio Marko Hiletala: baixista e segundo vocalista, conhecido pela sua banda com seu irmão - Tarot.

Foi, logo após conhecermos esse "contato" entre os músicos que entendemos as relações do Tuomas para convites em sua própria banda. 
Depois de Wishmaster, o Nightwish lançou, em 2001, um EP - Over The Hills and Far Away - com 2 músicas inéditas, uma versão diferente de Astral Romance, o cover de Gary Moore as 6 faixas, ao vivo. Tuomas estava já se preparando para um novo álbum de estúdio logo em seguida quando passou por uma situação adversa: Sami, o baixista, não se encaixava mais na banda.
Nunca se soube realmente qual era o problema entre eles, apenas suposições. Tuomas o dispensou (o que, aparentemente Sami aceitou tranquilamente, pois mais tarde, sabíamos que continuavam amigos). Como Tuomas se arriscou no 1º álbum a ser o vocalista masculino e foi (como ele considera) "um desastre", passou a precisar contar com a contribuição de cantores externos - como Tapio Wilska (ex Finntroll, vocalista do Sethian e Obscene Eulogy) ou Tony Kakko (vocalista do Sonata Arctica) até aquele EP.

Era necessário, talvez, um baixista que soubesse cantar, matando dois coelhos com uma cajadada só. Da sua lista de contatos, a melhor opção não poderia ser outra: o já experiente, Marko Hietala. E assim que Century Child (lançado em 2002) foi para estúdio, nasceu uma bela parceria entre Marko e o Nightwish - e a banda passou a ser aquela que fez a sua fama total e para mim, especificamente, tornou-se muito mais poderosa - já que prefiro vocais masculinos.

Contribuindo também como compositor em algumas músicas, Marko tinha carta branca para muita coisa na banda. Por vezes era considerado a ser o porta-voz e foi sincero e direto, a respeito da dispensa de Tarja Turunen, alguns anos depois no fim da tour de Once (2004), o álbum mais aclamado da banda. Ele dizia que a cantora tinha exigências muito inadequadas para o tipo de banda que fazia parte. Era uma diva, literalmente.

Marko também fez parte da fase Anette Olzon do Nightwish - os discos Dark Passion Play (2007) e Imaginaerum (2011) são grandes álbuns, e o último citado, foi o mais ambicioso da carreira deles, pois incluiu atá uma produção de um filme.  Suas contribuições nele, abrilhantaram a melhor fase da banda para muitos.

Uma nova crise e uma troca de vocalista, acabou abalando novamente o Nightwish. Tuomas recorreu mais uma vez à amizade: chamou às pressas a cantora holandesa, Floor Jansen, ex After Forever, banda que já havia feito turnê com eles, nos idos de 2002. 

Floor acabou aceitando o convite permanente e junto com ela, aconteceu a integração do multi musicista inglês Troy Donockley, que era músico de apoio desde 2006.
Assim, saíram: Endless Forms of Most Beautiful de 2015 e o recente trabalho (e interessante!) Human :II: Nature, lançado no ano passado, 2020 com ela de vocal principal. O primeiro citado, foi gravado pelos músicos "originais" e acrescentados, mas na turnê de divulgação, uma mudança: o baterista Jukka Nevalainen não participaria, iniciando um tratamento de sua insônia crônica. Ele continuava com eles, só que cuidando da parte administrativa para ver se conseguia se tratar com calma. Ainda assim, em 2019, anunciou que continuaria offstage, ainda que tivesse se curado. Kai Hahto - que havia se tornado baterista temporário - foi integrado como membro oficial.
A inclusão definitiva de Troy também deixou algo suspeito no ar: as participações de Marko como vocalista na banda ficaram sumidas ou bem menores. Isso ficou mais pertinente quando ouvimos o disco de 2020. 

Não é de se espantar então que, ao fim de tudo que aconteceu no ano anterior (e ainda acontece, com todos nós, no dia a dia e o medo dessa pandemia), que Marko tenha pensado a respeito de sua vida, da indústria e se colocado como um cara cuja a arte tem sido pouco valorizada. Não que esteja acusando Tuomas de ter provocado para que chegasse à esse ponto de sua saída. Mas parece que o tecladista e líder do Nightwish é tão apaixonado pela sua banda que é resiliente com produtores e dança conforme a música da indústria para se manter ativo e produzindo coisas novas, custe o que custar. A questão é que, no caso de Marko, isso lhe custa muito mais esforço, inclusive em relação à sua saúde mental. 

Foram 20 anos de dedicação ao grupo e muito mais, de carreira e trabalhos paralelos. Mas quando as coisas nos bastidores não vão bem, não compensa insistir. A Arte deve prevalecer. Se a Magia dela se quebra, por mesquinharia, abusos ou corrupção (como é o fator de causa na decisão de Marko), o fracasso é iminente.

Dito tudo isso, vamos mostrar o quão sentiremos falta do Marko músico enquanto ele se retira da vida pública para cuidar de si.
Apresentarei o outro lado dele, que talvez muitos de vocês nem sequer tenha ideia da existência.

♫ Tarot 

Se você começou a gostar do Nightwish mais ainda com a entrada do Marko em 2001 e não foi, logo em seguida, procurar sobre a sua carreira até aquele momento, você "perdeu o trem". Há um bom material dele com o Tarot!


Ele estudou guitarra clássica, canto e teoria musical na época do ensino médio e junto com seu irmão, Zachary, fundaram, em 1984, o Purgatory, que se tornaria Tarot - uma banda de matriz Heavy Metal e de muita qualidade. O contrato para o 1º disco saiu em 1986, anos de lançamento de Spell of Iron.
Com relativo sucesso, lançaram logo depois: Follow Me Into Madness (1988), To Live Forever (1993), Stigmata (1995), For the Glory of Nothing (1998), Suffer Our Pleasures (2003), Crows Fly Black (2006), Gravity of Light (2010) e The Spell of Iron MMXI (2011).

Abaixo, uma seleção de músicas da banda, no Spotify.


♫ Northern Kings

Esse foi um dos projetos mais bacanas que já ouvi! Northern Kings era um supergrupo composto por quatro músicos conhecidos da Finlândia, cantando versões metálicas de obras populares. São eles: o potente vocalista (e baixista) Jarkko Ahola do Teräsbetoni, Tony Kakko do Sonata Arctica e Juha-Pekka Leppäluoto do Charon e Harmaja, e claro, Marko. 

O 1º single, We Don't Need Another Hero da Tina Turner foi lançado em 2007, seguido por seu álbum de estreia sob o título Reborn, com outros covers, que destaco: Sledgehammer do Peter Gabriel (que ficou fan-tás-ti-ca!!) e In The Air Tonight do Phil Collins cantada somente pelo Marko e ele dá show!
Abaixo, o álbum completo:


No final de 2008, seu segundo álbum Rethroned foi lançado, com o single Kiss from a Rose originalmente cantada por Seal, numa versão metal melódico.
Abaixo, todas as canções do Rethroned


Infelizmente, não há nada novo do grupo lançado desde então, a não ser uma canção em 2010, chamada Lapônia, mas o trabalho dos vocalistas ficou muito bacana nesses dois discos e acho que vale a pena darem uma conferida.

Por fim, o primeiro (e o último, por enquanto) trabalho solo de Marko:

♫ Pyre of the Black Hearts

Em duas versões: inglês e finlandês, Marko lançou seu primeiro trabalho solo desde 1984, no final de 2019. Seu nome passou a ser creditado com K, como é originalmente. (Por isso a minha particular confusão em revisar o texto todo, trocando "Marco" por "Marko"). Aparentemente essa era uma jogada de marketing do músico, que achava que Marko com C era mais legal. No entanto ele percebeu que isso era uma bobagem e disse que era a "última mentira que ele construiu sobre si mesmo".
Dá para ver que ele andava fazendo uma autoavaliação mesmo antes do isolamento social propiciado pela pandemia. 

O álbum é recheado de boas canções, como Dead God's Son e a semi balada I Am the Way.


Nem deu muito tempo para divulgar esse trabalho, nem mesmo, a pandemia deixou que caísse na estrada com o Nightwish. Mas, a sua decisão precisa ser respeitada. 
No último dia 14 de janeiro, Marko fez 55 anos. Que vá curtir a vida e volte renovado, nos agraciando com a sua arte!


Fico por aqui, desejando que tenham gostado. 
Abraços afáveis e Musique-se!

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