Aleister Crowley "influenciando" mais um: o que sabemos até agora do novo álbum do Ghost

Em abril do ano de 2020 abrimos, aqui no Musique-se, uma sequencia de matérias que se estendeu até junho do mesmo ano, com curiosidades sobre o bruxo, místico, ocultista ou somente insano, Aleister Crowley, e as pessoas do meio musical da qual influenciou (ainda que sem intenções).

Idealizador de uma filosofia de vida/seita chamada Thelema, calcada em preceitos místicos de invocação de espíritos, e rituais regados à uso de entorpecentes, magia negra e orgias, contamos um pouco dos indícios de sua imortalizada figura através de famosos músicos da cena rock mundial.
Resumimos um pouco de quem era a figura de Crowley na matéria a seguir, como abertura da série:


Em seguida, dedicamos matérias completas à ligação de Crowley com vários músicos, começando com Jimmy Page (no link). Depois tivemos: Beatles (no link), Rolling Stones (no link), Ozzy Osbourne (no link), Iron Maiden e Bruce Dickinson (no link) e um matéria-combo que passou desde The Doors, David Bowie, King Diamond, Behemoth até Raul Seixas (no link).

Neste ano, e há algumas semanas (especificamente no dia 20 de janeiro), soubemos que podemos incluir mais um na lista de "seguidores" ou "influenciados" pela bizarra figura de Aleister Crowley: o Ghost, banda sueca idealizada por Tobias Forge.

A banda que satiriza o clero católico sob a figura de papas "aposentados", está na sua quarta fase de vocalista e quinta de álbum de inéditas. O Papa Emeritus IV - que está na sua transição definitiva, desde meados de 2020, de Cardinal Copia à Papa - será o frontman do Ghost com o próximo disco, intitulado como Impera, agendado para lançamento no dia 11 de março.

Impera, sucede Prequelle (2018), que contém uma pegada de letras remontado a Idade Média. Desta vez, Forge (que é o letrista e também o Papa) revelou que o conceito do disco foi influenciado pelo livro de Timothy Parsons chamado The Rule of Empires: Those Who Built Them, Those Who Endured Them, and Why They Always Fall, sem tradução no Brasil. 
O autor é um historiador que pesquisa e se interessa (além de impérios) por estudos africanos e afro-americanos. Esse livro na qual Forge revelou ser inspiração, parece abordar de forma ampla, o conceito de impérios desde a sua origem na Roma Antiga até a sua forma ditada no século XX. 

De acordo com a descrição em seu próprio site (ver aqui), Parsons busca dar uma explicação do o que constitui um império e oferece algumas sugestões sobre o que os impérios do passado podem nos dizer sobre nosso próprio momento histórico.
Isso, particularmente, é um tanto problemático pois, dá a entender que ele parte de um pressuposto que os impérios são todos iguais e sabemos minimamente que, na História, as coisas não são assim, com causas e efeitos pré-determinados, como uma receita de bolo. 
Mas, Parsons pode não colocar tudo num mesmo tacho, afinal, acrescenta à descrição do livro:  

"[Ele] usa exemplos imperiais que se estendem da Roma antiga ao "novo" imperialismo da Grã-Bretanha no Quênia, ao Terceiro Reich para analisar as características comuns a todos os impérios, suas evoluções e mitos que são autojustificados e as razões de seu inevitável declínio. Parsons argumenta que, longe de confirmar algum tipo de hierarquia darwiniana de sociedades avançadas e primitivas, as conquistas foram simplesmente o produto de uma vantagem temporária em tecnologia militar, riqueza e vontade política. Por trás da retórica autojustificativa do paternalismo benevolente e da superioridade cultural estava a exploração econômica e o desejo de poder." 

Poder como aquisição e derrocada... Isso não parece em nada surpreendente, não é mesmo?
No entanto, as ambições imperiais ainda soam viáveis ​​no século XXI, como intenta mostrar Parsons, e é, possivelmente o que motivou Tobias a escrever a parte lírica de Impera.

A descrição do livro finaliza, então, com os seguintes dizeres: 

"Escrevendo a partir da perspectiva do sujeito comum e não da perspectiva dos conquistadores imperiais, Parsons oferece um conto de advertência historicamente fundamentado, rico em relatos de povos subjugados que se livram do jugo do império uma e outra vez. Ao fornecer uma imagem precisa de como é viver como um súdito, The Rule of Empires expõe as racionalizações dos conquistadores imperiais e seus apologistas e expõe os verdadeiros limites do forte poder."

De acordo com a divulgação para a imprensa sobre o disco da banda sueca Impera trata de "12 músicas, [sobre] impérios sobem e caem, aspirantes a messias fazem seu hype (financeiro e espiritual), profecias são preditas enquanto os céus se enchem de corpos celestes divinos e feitos pelo homem."

Em entrevista, Forge já havia comentado sobre o conceito de ascensão e queda dos impérios para um álbum, por influência de The Rule of Empires. A ideia teria surgido antes mesmo de Prequelle tomar forma (Fonte: Blabbermouth). 

Juntamente com a divulgação da data de lançamento do novo disco, o Ghost anunciou a segunda música divulgada, do álbum. O single Call Me Little Sunshine foi lançado junto com o videoclipe:


Nele, o "Mephistopheles" - personagem medieval conhecido como encarnação do mal, aliado de Lúcifer na captura de almas inocentes através da sedução. Considerado em muitas culturas como o próprio Diabo, e que, no vídeo, aparece encarnado na sua forma mais comum: vermelho, com chifres, muito próximo à imagem de um bode, e, aparentemente desviando uma moça de seu caminho, ou seja, levando-a para o Inferno. 
A moça, num vagão de trem, nos remete à George Stephenson, britânico que projetou as famosas locomotivas à vapor em 1814, se tornando o pai dos caminhos de ferro britânicos. Especulação nossa, claro.

Call Me Little Sunshine, como dissemos, foi a segunda música divulgada para o novo disco.
Anteriormente, na ocasião de divulgação do filme, lançado em 14 de outubro do ano passado -Halloween Kills estrelado pela Jamie Lee Curtis e retoma a história do personagem serial killer Michael Myers ou The Shape - tivemos como música nos créditos finais, Hunther's Moon:


Fã da série dos filmes de terror, Forge não pestanejou dar sua contribuição na trilha. Hunther's Moon é o lado B do single Call Me Little Sunshine e finalmente os fãs puderam sanar as suas expectativas de novo álbum de inéditas à caminho.  As demais 10 faixas de Impera também foram reveladas no dia 20 de janeiro. São elas:

Imperium
Kaisarion
Spillways
Call Me Little Sunshine
Hunter’s Moon
Watcher In The Sky
Dominion
Twenties
Darkness At The Heart Of My Love
Griftwood
Bite Of Passage
Respite On The Spitalfields

E então, finalizamos com a capa do mais novo trabalho do Ghost, que chegará para nós, completinho, no começo de março, pela Loma Vista Records. A arte é bem interessante:


Com detalhes em dourado, parecendo ligado por fios robóticos, e em uma moderna e "metálica" igreja, como uma indústria, a imagem do Papa Emeritus IV chamou a atenção pela sua pose.

Não é de hoje que o Ghost como um todo, o conceito projetado por Tobias Forge à banda desde à estética até as letras e o som, flerta, desde o começo, com ocultismo e simbologias satânicas. Porém, desde o seu surgimento em 2006, com o debut de Opus Eponymous em 2010, a estética adotada era uma relação macabra contrapondo àquela adotada pela Igreja Católica. 
Desta e pela primeira vez, Forge adotou uma ideia bem mística e simbólica e completamente relacionada à Crowley. Observem novamente a pose e pensem se já não viram ela em algum lugar.

A quarta imagem no Google que aparece ao digitarmos o nome do bruxo ocultista, é exatamente essa:


A pose se chama Noite de Pan, e se refere à um estado místico que, nos preceitos da Thelema, representaria algo como a "morte do ego" no processo de realização espiritual, de transcendência que orbita a seita. 

Pan é um deus da mitologia grega, usualmente associado à desejo e natureza, além do poder sexual e fértil masculino. Ele é o deus dos pastos e também companheiro das ninfas dos bosques. Sua representação é de homem com traseiros, pernas e chifres de bode. 

O aspecto caprino está fortemente associado a iconografia do Diabo, e um dos primeiros a observar essa similitude foi Crowley e  também, outro ocultistas, o americano conhecido por Anton Szandor LaVey -  autor da Bíblia Satânica e da Igreja de Satã, criada por ele em 1966.  

Na Thelema, a "religião" de Crowley, Pan é uma a entidade que dá e tira a vida, e está ligado ao estado de transcendência de limitações e unificação com o Universo - por isso, a sua associação com a Fauna (como mito romano, Pan é um "Fauno") - e também, o motivo do místico ser considerado um satanista de primeira estirpe. 

E quem é que aparece no vídeo de Call Me Little Sunshine
Lúcifer - ou seja, o "portador da luz", também conhecido como "Morningstar" ou "Estrela da Manhã"e que pode estar associado ao termo "sunshine". No vídeo, fica claro tudo isso.  

Aguardamos ansioso pelo 11 de março para descobrirmos outras referências com ocultismo e, quem sabe, outra homenagem, além da capa, à Crowley.

Abraços afáveis e Musique-se!

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